Para a menina Letícia Lemes
NÓ! Virou um enxame de gente na casa de Letícia de
encher a paciência. Gente que entra gente que sai. Parecia até que a menina Letícia
tinha virado Santinha... Coisa assim. Nó!
Mas ó, culpa da professora dela; a Tia Nena.
A Tia se gabava dos alunos; principalmente de Letícia que era um
brinco de menina. Aí, um dia, no salão de beleza, Tia Nena pega e mostra a
historinha que Letícia escreveu. Daí, a cidade inteira quis saber, pela boca de
Letícia, os tintins da historinha.
E a historinha que Letícia escreveu, foi assim: ela brincava
de peteca na rua, blablablá, quando um caminhão cheio de boizinhos passou
vrummm, roooom, roooom, parando à vendinha. Aí ninguém soube o que deu na Letícia
pra ela deixar de brincar de peteca e ir beirar o caminhão.
À gaiola do caminhão, o olhar de Letícia topou o olhar de um
boizinho branco, de pintas negras. Eles se olharam e se olharam e se olharam, e
o boizinho lhe disse:
“Oiê! Chegas mais... Diga: você dá conta de me tirar dessa
gaiola? Sabe menina, eu nem sei pra onde estou indo. Nenhum de nós aqui sabe.
Mas sinto que não quero ir; meu coração diz isso. Até se fosse pra rever minha
mãe, ou meu pai, eu não sentiria tanto deixar o campo onde nasci e me criei e
corri e brinquei. Falo rever minha mãe, ou meu pai, porque eles também foram
levados em gaiola. Nossa! Foi duro de vê-los ferroados à gaiola! Nunca que
esquecerei o berro e o olhar que minha mãe me deu quando os homens baixaram a porta
da gaiola... Nunca! Logo minha mãe que tinha um olhar alegre, cheio de vida e
que, de repente assim ó, de repente, ficou triste, já sentindo a saudade que iria
bater no nosso coração. Tudo mudou, pra mim. Tudo. Fiquei perdido, olhando pros
lados, e os lados me parecendo um vazio sem igual... Foi aí que a vida me virou
dor. Pensa na dor duma corrente a torcer e retorcer um coração... Pensa!
Principalmente da lembrança de quando eu ia com minha mãe ao riozinho, beber
água. Nunca esquecerei: minha mãe se deitava no raso do riozinho e me olhava,
convidando-me a deitar do seu lado; e eu me deitava, sentindo um perfume de
flor que exalava do seu carinho... Ah, veja só: o homem do caminhão está vindo...
Dá um jeito, menina, de você me tirar daqui, agora... Chame alguém pra te
ajudar... Anda! Aí ó, agora não dá mais: o homem já vai tocar o caminhão...”.
Letícia chorou que chorou quando o caminhão se buliu e o fio
que prendia o seu olhar ao olhar do boizinho se foi rompendo... E aí que o caminhão
entrou numa curva... Aí sim que o choro saiu que nem aguaceiro. Foi duro pra
Letícia aceitar a sua fraqueza de menina diante da súplica do boizinho... Ainda ter de reviver a Deus e todo mundo, tintim por tintim, a triste historinha
do boizinho branco com pintas negras.
Quer mesmo fazer a gente chorar, né Márcio? Pois conseguiu!
ResponderExcluirUma linda e comovente história querido, leve e bonita parabéns, adoro ler vc, fica bem.
ResponderExcluirMaria Mendes
Triste, tão triste! Ontem, assistindo ao Fantástico, vi como os bois são tratados nos matadouros, e nossa, é de doer o coração e rasgar a alma...
ResponderExcluirÉ Márcio, cada um com sua história e em cada uma delas uma lição de vida. Uma história triste que me deixou sem palavras, porém sinto em cada uma delas um encanto fascinante. Boa noite! Carinho da Cida.
ResponderExcluirMais uma bela e comovente história para todas as idades, escrita com esmero, criatividade e talento. Parabéns, Márcio!
ResponderExcluirLinda história tio!
ResponderExcluirUfff perai... ai so mais um pouquim jaja comento... é que as lágrimas não quer deixar, o Sr° sabe o qto sou mole né... Mas olha, queria saber, como um ser humano, consegue ir tão fundo na alma das pessoas. Você é meu heroi... Linda Linda historia... Te Amoo Tio. Lucélia Lemes
ResponderExcluiroi tio, sou eu a Leticia essa historia me fez chorar mais foi linda que pena nao tive como salvar o boizinho brigada pela historia adorei, estou com saudades. Leticia Lemes
ResponderExcluir.
Só tem um jeito de salvar esses boizinhos: aderir ao veganismo. vai levar tempo, mas é justamente pelas mãos de meninas como a Letícia que consegue perceber a tristeza e a dor dos animais abatidos para nosso prazer que essa mudança vai acontecer.
ResponderExcluirBelíssimo texto, Márcio. Obrigada por este presente.