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segunda-feira, 11 de março de 2013

A menina e o boizinho

Para a menina Letícia Lemes



NÓ! Virou um enxame de gente na casa de Letícia de encher a paciência. Gente que entra gente que sai. Parecia até que a menina Letícia tinha virado Santinha... Coisa assim. Nó!
    Mas ó, culpa da professora dela; a Tia Nena.
    A Tia se gabava dos alunos; principalmente de Letícia que era um brinco de menina. Aí, um dia, no salão de beleza, Tia Nena pega e mostra a historinha que Letícia escreveu. Daí, a cidade inteira quis saber, pela boca de Letícia, os tintins da historinha.
    E a historinha que Letícia escreveu, foi assim: ela brincava de peteca na rua, blablablá, quando um caminhão cheio de boizinhos passou vrummm, roooom, roooom, parando à vendinha. Aí ninguém soube o que deu na Letícia pra ela deixar de brincar de peteca e ir beirar o caminhão.
   À gaiola do caminhão, o olhar de Letícia topou o olhar de um boizinho branco, de pintas negras. Eles se olharam e se olharam e se olharam, e o boizinho lhe disse:
   “Oiê! Chegas mais... Diga: você dá conta de me tirar dessa gaiola? Sabe menina, eu nem sei pra onde estou indo. Nenhum de nós aqui sabe. Mas sinto que não quero ir; meu coração diz isso. Até se fosse pra rever minha mãe, ou meu pai, eu não sentiria tanto deixar o campo onde nasci e me criei e corri e brinquei. Falo rever minha mãe, ou meu pai, porque eles também foram levados em gaiola. Nossa! Foi duro de vê-los ferroados à gaiola! Nunca que esquecerei o berro e o olhar que minha mãe me deu quando os homens baixaram a porta da gaiola... Nunca! Logo minha mãe que tinha um olhar alegre, cheio de vida e que, de repente assim ó, de repente, ficou triste, já sentindo a saudade que iria bater no nosso coração. Tudo mudou, pra mim. Tudo. Fiquei perdido, olhando pros lados, e os lados me parecendo um vazio sem igual... Foi aí que a vida me virou dor. Pensa na dor duma corrente a torcer e retorcer um coração... Pensa! Principalmente da lembrança de quando eu ia com minha mãe ao riozinho, beber água. Nunca esquecerei: minha mãe se deitava no raso do riozinho e me olhava, convidando-me a deitar do seu lado; e eu me deitava, sentindo um perfume de flor que exalava do seu carinho... Ah, veja só: o homem do caminhão está vindo... Dá um jeito, menina, de você me tirar daqui, agora... Chame alguém pra te ajudar... Anda! Aí ó, agora não dá mais: o homem já vai tocar o caminhão...”.
    Letícia chorou que chorou quando o caminhão se buliu e o fio que prendia o seu olhar ao olhar do boizinho se foi rompendo... E aí que o caminhão entrou numa curva... Aí sim que o choro saiu que nem aguaceiro. Foi duro pra Letícia aceitar a sua fraqueza de menina diante da súplica do boizinho... Ainda ter de reviver a Deus e todo mundo, tintim por tintim, a triste historinha do boizinho branco com pintas negras.

9 comentários:

  1. Quer mesmo fazer a gente chorar, né Márcio? Pois conseguiu!

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  2. Uma linda e comovente história querido, leve e bonita parabéns, adoro ler vc, fica bem.

    Maria Mendes

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  3. Triste, tão triste! Ontem, assistindo ao Fantástico, vi como os bois são tratados nos matadouros, e nossa, é de doer o coração e rasgar a alma...

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  4. É Márcio, cada um com sua história e em cada uma delas uma lição de vida. Uma história triste que me deixou sem palavras, porém sinto em cada uma delas um encanto fascinante. Boa noite! Carinho da Cida.

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  5. Mais uma bela e comovente história para todas as idades, escrita com esmero, criatividade e talento. Parabéns, Márcio!

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  6. Ufff perai... ai so mais um pouquim jaja comento... é que as lágrimas não quer deixar, o Sr° sabe o qto sou mole né... Mas olha, queria saber, como um ser humano, consegue ir tão fundo na alma das pessoas. Você é meu heroi... Linda Linda historia... Te Amoo Tio. Lucélia Lemes

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  7. oi tio, sou eu a Leticia essa historia me fez chorar mais foi linda que pena nao tive como salvar o boizinho brigada pela historia adorei, estou com saudades. Leticia Lemes

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  8. Só tem um jeito de salvar esses boizinhos: aderir ao veganismo. vai levar tempo, mas é justamente pelas mãos de meninas como a Letícia que consegue perceber a tristeza e a dor dos animais abatidos para nosso prazer que essa mudança vai acontecer.
    Belíssimo texto, Márcio. Obrigada por este presente.

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