Sôtõezim,
na casa do seu compadre Sêo Zé Afonso. Ele é padrinho do Traque, irmão do Duca,
os dois amigos do Poêra. São meninos de nove para onze anos que se irmanam com
um papagaio falador, de nome Zeca, e saem pelo campo e desce e sobe o rio a
nado e fazem balanço de cipó sobre o riozinho.
Sôtõezim,
ao café, quer saber do afilhado:
—
Compadre, quede o Traque?
Sêo
Zé Afonso corre as mãos no rosto:
—
Verdade, compadre, num sei. Falei coa muié que, quem pode coeles, é só o Saci.
Eles se juntam e saem poraí, afora, fazendo bobage. Sobe morro, desce morro, pé
de manga, de goiaba, mergúia, pega peixe coa mão, mexe coas éguas, coas cabras
do vizim, e antonte o Traque descuidou e a mãe dele viu que ele escondia coisa
dentro da carça. Foi ver, era uma carcinha queles ensinaro o Zeca a
roubá das cordas de secá rôpa, e a muié inda quis queu fosse adevorvê a coisinha…
Ói, ocê vê! O negóço, compadre, é que já tou a ponto de pegar o chicote e dar jeito
ne-les…
Do
breve silêncio da conversa, Sôtõezim arremata:
— Ara, compadre! Quem sôi nóis de pegá valentia
cos meninos, sô. Se assuntá direitim, nóis tem deles é inveja enrascada com sodade,
num é? Larga os menino, compadre! Quem sôi nóis…
Arraial d'Ajuda, setembro de 2021.