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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

La dernière valse

EU NUNCA fui, assim, de circo. Mas confes-so: amava a euforia da cidadezinha com o circo. Tudo mudava. Tudo. Menos eu. Sem onde procurar a esperança de amor, alvo da arte tétrica de um adeus, tentava-me salvar nas machadianas e nas flores de Cecília Meireles. De olho no emocional, fugia da mú-sica, embora meu coração se trucidava por La dernière valse, com Mireille Mathieu. 1967, eu sei.

O perna-de-pau, e as crianças o seguindo. Mi-nha alma respondia: “Tem sim siô!”. E que o quarto me chamou para o sábado com Solom-bra, de Cecília, ouvi: “Assistam à mulher de olhos com pingentes de estrela a dançar uma grande valsa!”. Não pelos olhos, também não soube o porquê, mas me vi à bilheteria.

Irreflexo, comprei do florista rosas verme-lhas... (Perdão.... Aos 80 anos, a gente chora com o lírico...). De frente ao palco, oh, podia-se nadar nos meus olhos. Ouvi La dernière valse, e me arrepiei à sensibilidade da bailarina.

Meus olhos jorrantes me levaram ao camarim e ofereci a ela, aquela deusa-ísis, as rosas. Saltou de mim um dos versos da valsa, Mon coeur restait seul sans amour - 1., ela correu a mão no meu rosto, me olhou, me abraçou... Como ela me abraça agora, e o fez por mais de 50 anos em que estamos juntos. Sabe, me saem lágrimas se ouço La dernière valse.


- 1 : O meu coração estava sozinho, sem amor.