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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Uma Aventura da Menina Gabriela

Gahbi, Gabriela Ferro Oliveira, beijo do vovô


    VILA da Lua!
   É chamada assim, porque a Lua Cheia não sai do seu céu. Quantas historinhas se tem de Vila da Lua! Alegres, mágicas, e outras de aventura, como esta da Gahbi, a menina que ganhou novos amiguinhos ani-mais.
    Foi assim:
   Um dia, Gabriela ouviu que o Senhor Feio havia amarrado seus animais em galpão e não lhes dava comida nem água. Aí, você já viu… A se esconder pe-lo caminho, ela chegou ao galpão. Realmente, lá es-tava o cãozinho que já não latia, o porquinho que já não roncava, o cavalinho que já não rinchava, o galo que já não cantava e o papagaio Zeca, que já não fa-lava. Quanta maldade, ó, São Chiquim de Assis!
   Então Gabriela voltou à hortaliça da sua casa, fez do vestido, cesta, e levou legumes e verduras para os famintos. Com o Senhor Feio dentro do rancho, a be-ber e a ouvir ao rádio na maior altura, a menina bus-cou água no corguinho para os coitados.
    Aí, dia lá, que Senhor Feio acordou, cadê os animais? Porque Gahbi os havia desamarrado, eles fugiram para o sítio dela. E ao vê-la a tratar bem deles, Senhor Feio se invejou e foi ao Velhinho Delegado denunciá-la por roubo de animais.
    Ah! São Chiquim de Assis, e agora?
    Agora, que, da apuração, Gabriela iria pegar o castigo de não mais sair de casa, perder o ano da escola, não brincar na pracinha, não colher florezinhas no campo etc., além de pagar multa. Iria, porque, sabe o que aconteceu? Os animais se adentraram na Delegacia, e, de cima do ca-valinho, Zeca contou a história e o que Gahbi fez por eles. Com isso, o Velhinho Delegado agra-deceu à Gabriela por salvar os animais e deu ordem para jogar Senhor Feio no xadrez.
   Foi festa só, na pracinha de Vila da Lua. Que bonito! Que legal, o cãozinho a latir, o porquinho a roncar, o cavalinho a rinchar, o galo a cantar, e o Zeca, todo-todo no ombro da Gahbi, a falar mais que o homem da cobra. Mas…. “Por São Chiquim de Assis! Cala o bico, Zeca!” — as crianças Xande e Bianca gritaram, das suas janelas.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Xande e o Doce Ladrãozinho

   
Xande, Alexandre Ferro Oliveira, beijo do vovô


Os dias em que Xande passa com o Vovô, no sítio, não sai da varanda. É aquele negócio de rabiscar desenhos e ouvir o corguinho a cantar. Sem esquecer, claro, do saco de caminhão-zinhos debaixo da sua cama
E o Vovô, depois dos afazeres, pega a assar pãezinhos. Numa dessa, que o Xande foi ao quarto e voltou, dos pãezinhos em cima da mesa da varanda, um estava furado; o miolo mexido.
— Não fui eu, Xande! — o Vovô disse de lá, porque Xande reclamou.
Para acabar com aquela história, o Vovô assou mais pãezinhos, e Xande foi ao quarto. Havia-se lembrado do jogo de dominó e de varetas. Que voltou, olha mais um pãozinho furado, o miolo mexido. Melhor: roubado.
— Não fui eu, Xande! — o Vovô disse de lá, porque Xande reclamou e já saiu para o corguinho, meio que embirrado.
Foi ao corguinho para ver os lambaris a nadar. Algo, porém, o fez parar e se amoitar a um arbusto: um Socozinho, a pescar, jogava pedaços de miolo dos pãezinhos na água, como isca. Não deu outra: depois de xingar o Socó de “doce ladrãozinho”, foi chamar o vovô.
E agora, se você olhar com os olhos da alma, eles estão deitados atrás do arbusto, e Xande quase em cima das costas do vovô, ambos admirados com a pescaria do Socozinho. Mas o Xande, que tanto pediu silêncio ao vô, deixou escapar “Oba!” do tamanho do céu, quando Socozinho pescou uma piaba e a engoliu de duas, três vezes. Aí foi a vez de o Vovô reclamar do barulho do netinho:
— Aí, ó! O Socó foi embora.... E eu queria vê-lo pescar outro peixinho, Xande. Viu, o que você fez? Vamos embora também, que eu fiz molho pra gente passar no pão.
Mas eles se acertaram, pelo caminho. Vovô jurou que o Socó iria aparecer, no outro dia. Era só deixar pãozinho francês para ele, na mesa da varanda.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Prosa para Bianca

Para Bianca cintilada, o beijo do vovô.



Bianca
    Nem a estrela que ficou entre as púrpuras da aurora, nem quando o vento melancólico geme, e os pás-saros o animem com o revoar na mata, e nem que o sabiá cante por nuvens cinzas dalém da serra, na-da me faz fechar os olhos a me sentir tão bem quanto o arzinho de que Bianca já está em viagem.
   Nem que a rosa se faça em cá-lice para o orvalho, e este só quer é brincar de branquear a borda das suas pétalas, nem que o silêncio da madrugada me farfalhe versos da chuva no rio, da qual os pingos saltam como bolinhas de vidro ao sol, nada me faz fechar os olhos a me sentir tão bem quanto o arzinho de que Bianca está para chegar.
    Nem quando se liberta a aura do perfume matinal, que é o aviso do reacender-se das florezinhas campais, e que o cardume de pi-rilampos, que se passam por estrelas no meu quintal, foge do dia... Nada. Aliás, só uma coisa me fez fechar os olhos a me sentir tão bem com o arzinho de que Bianca já chegou: foi aquela estrela den-tre as púrpuras da aurora, que, antes de se sumir no céu, me fez saber que havia sido ela que me cintilou Bianca.



Uberlândia, 1/11/2019