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terça-feira, 8 de julho de 2014

Depois da agonia do trem

Aos artistas plásticos, que nos doam, sem prever, histórias várias com suas telas.    



A colina, seios aqui, seios acolá, toda em verde. Verde tal a alma do homem, ele que nela apanha bem-me-queres, se disfarçando aos olhares de censura dos donos das flores, os pássaros.
      O homem é esboço do mesmo pincel que deu vida à colina com seus seios e sombras, e ao céu com sua névoa e nuvens que quase se esbarram na linha da colina. Tem na mão um ramalhete, e, na alma, é o que se sente, a feição cinzenta da mulher que ama; feição que se apega mais a cinza com a agonia do trem que e-vem entre os seios da colina: platplatplatplat, ôôôôôô, platplatplatplat, ôôôôôô!
     A alma do homem ao campo vê a mulher que ama, ela no quarto, olhar entregue ao vão da janela... À espera do trem? Oh, Deus! ― pôs-se em disparada, para não perdê-la para o trem.
     Embora tarde demais, deita o ramalhete na cama, ao lado da mala pronta da mulher. Não lhe sai o “por que, se eu te amo? “. Não, apenas baixa a cabeça, morde os lábios e, ao vê-la transpor a porta da casinha, se lhe deitam abaixo as lágrimas.
      A dor lateja ao que destrói até o seu píncaro, o passável, pois, aí, ou se vem o vago, que não dá sinal de fim, ou se vem o oposto, o prazer, que não dá sinal de fim. Então, entre ele e ela, agora, o trem na estaçãozinha: buf... buf... buf. Aí, não há um quê que lhe erga o rosto para vê-la à janela do vagão, e vive, cabisbaixo, o trem entrar em agonia e levá-la para sempre.
     Assim, a máquina geme e se alui e leva a sua dor ao píncaro, pra se agoniar em platplatplat, ôôôôôô, platplatplat, ôôôôôô, às curvas do mundo. Tem-se de beber a água salgada do canto da boca, desmorder os lábios, abrir os olhos à vida, dizer à vida: “ou, eu estou aqui! “
      Está aqui que ele  ergue o rosto e,  que passa o último vagão, a sua vida está ali, à sua frente: a mulher que ama está ali, na estaçãozinha, às lágrimas, mala pronta aos pés a dizer a ele, depois da agonia do trem: “ou, eu estou aqui! “
       A colina, seios  aqui,  seios acolá,  toda em  verde.  Verde  como as almas deles, ele e ela que nela apanham bem-me-queres, se disfarçando aos olhares de censura dos donos das flores, os pássaros.


(Pequena história extraída de pinturas em telas inspiradas no cotidiano e natureza)