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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Em memória de Nina da Rua

À menininha Olívia Rezende Kunz


"Nina da Rua"
Todo dia, cedinho, antes de abrir o açougue, Sêo Tuim a procurava com o olhar do outro lado da rua. E lá estava ela, a Nina da Rua, a se espreguiçar num beco de muro. Então ele a cumprimentava, “Oi, Nina! Bom-dia, Nina!”, e abria a sua casa de carnes.

Mas as vovós, vizinhas de lado de Sêo Tuim, não iam com isso. Se zangavam. Ora! Elas a cumprimentavam antes de Sêo Tuim, e Nina fazia de conta não as ouvir. Pior: parecia que o velhinho do açougue dava preferência à Nina. “Parecia, não. Dava”, diziam as vovós.

Nina empacava o atendimento. Demorava-se na escolha da carne. Ia de cá pra lá, de lá pra cá, ao balcão em vidro. “Que tal esta bisteca, Nina?”, era Sêo Tuim. “Ou essa fatiazinha de fraldinha, hein?”.

Hoje, as vovós concordam, a prioridade do velhinho açougueiro à Nina, poderia durar anos e anos, que elas não ligavam. Tudo porque se ouviu o rangido agonizante de pneus na rua, e alguém levou a Sêo Tuim a triste notícia sobre Nina.

Houve luto de um dia, na Vila Caládia. E que o açougue abriu as portas, lá estava Nina da Rua que Sêo Tuim fez de papelão, as patinhas apoiadas ao vidro do balcão de carnes. “Sem a gatinha”, diz o povo, “a Vila anda muito triste”.

Homenagem a uma gata da Turquia.