De
bodoque e bornal, cabelo testa abaixo e olhos da cor da esperança, dei giro
pela Vila. Passei na calçada de quem me queria, e eu nem aí. Voltei no rastro,
entrei na quadra e na rua seguinte para passar ao alpendre da casa de quem eu queria,
e ela nem aí. Passei rente, a rasgar o braço, porque ela estava e estava ao
alpendre.
Olhou-me,
primeiro para o bodoque e o bornal, enquanto eu queria que ela me visse como
caçador pronto para caçar o nosso namoro, e segui. Na praça da igreja, os buritis
apinhados de passarinhos, o sacristão e o padre, me viram. O sacristão, que
isso… matar passari-nho? Me dá esse bodoque, dou não, é meu, e nos rolamos.
Rasguei o beiço dele à unha, e com a mesma arma ele rasgou a mi-nha testa.
O
padre nos apartou, me mandou embora, e voltei pela calçada dela. Ao me ver
sangrando, e eu queria um ribeiro de sangue no meu rosto, ela levou as mãos à
boca — oh! —, e me convidou a entrar, a sentar no seu banco de alpendre.
Daí, que pensei ganhar um beijo da minha deusa, ela entrou na casa, veio com
tesoura, cortou em pedaços o meu bornal, as gomas, segurou um pauzinho da
forquilha, eu noutro, e adeus, bodoque.
Dias depois, a vi à janelinha do expresso, ela a se mudar para a cidade grande. Foi quando meus olhos perderam o verde da esperança, e as minhas esperanças de muita coisa, ó….
Agora,
cinquenta anos depois… Mentira! Gritei comigo, ao vê-la pela Internet.