VAI sempre ao parque para ver as crianças brincar. Ama as mamães ditarem o “chega por hoje!”, porque o “chega!” tem a cara do quietar dos pássaros para o sono. Essa contiguidade, que nada separa, ele leva para o travesseiro.
Viu lá um menininho sem camisa sair em direção à chuva-de-ouro, onde lhe aguardava uma jovem. Ela lhe afagou as mãos, decerto por nenhum dos meninos ter-se dado com a sua presença, e ambos olharam para ele, que desviou os olhos para outros.
Sem dar conta da saída deles, cismou com o que menininho era aquele! Com os dias, via-se menino como ele: sem camisa no futebol da sua ruazinha, o jeito ágil, o olhar a julgar tenaz, o remoinho na frente do cabelo.
Na cama, o teto o espelhava. Chegou a aceitar que era ele. Não, que isso? Que absurdo! O que está-me passando? Não, não era. Não teve em criança a feição solitária e os olhos fundos, embora o olhar tenaz, como ele os tinha. E, outro dia, a verdade se lhe abriu em sonho:
“― Oi! – o menininho sem camisa foi até ele e o abraçou. Abraçados, ele lhe perguntou o nome: ― É L.... ― Ah, tá. O meu é M.... Onde você mora, L? ― No Parque dos Meninos. ― E sua mãe, cadê? ― Minha mãe, eu não sei. Daqui, eu gosto é de você. Você é que pode me ver e falar comigo. ― Como assim, só eu lhe posso ver? Cadê a moça que estava... ― É a Tia C.... Minha professora, sabe? ― Sim, sei. Mas cadê ela? ― Ali, ó, na árvore, tá vendo não? ― Ah, agora eu a vejo. E a sua escola, L, onde fica? ― Tchau, M! Tenho de ir. Minha Tia fez sinal – o menininho saiu correndo ― Tchau, amiguinho!”
Eles se foram, e, antes de se desfazerem entre as árvores, como se desfazem fiapos de nuvem ao vento, voltaram o olhar para M, deram tchau, e forte comoção o fez morder o lábio, tentando estancar o choro. Mas isso não funcionou, e M ergueu a camiseta ao rosto e chorou o que tinha pra chorar.