Cochilou no banco da pracinha, ao clamor de chuva das cigarras; porém o movimento de alguém no banco o despertou: foi o de uma menina-moça, que ali se sentou para chorar.
O rosto escondido pelos cabelos, e o impertinente inspirar pelo nariz, não o deixaram alheio ao desgosto que ela vivia. “Perdão, menina. É coisa de namoro?”.
Sem olhar para ele, ela balançou a cabeça que não.
Um tempo para assobiar uma modinha, olhando as ruas e a ela, de rabo de olho, e ele soltou a pergunta com a qual acertaria em cheio: “Ideia de deixar a família, fugir de casa?”.
Ela balançou a cabeça que sim, e ele procurou no seu baú de vida a tangência que encolhesse a sua ideia; que a reduzisse ao pingo do i no espelho do céu: “Vamos comer picolé?”.
Ela hesitou, mas balançou a cabeça que sim. E que comeram picolés, ele lhe pediu que quebrasse um palito. Ela o fez; porém não quebrou quatro palitos, um sobre outro: “O que quer dizer com isto?” – ela soltou a voz cansada de choro.
Ele falou da sua vida, do refúgio ao colo da mãe nas noites de tempestade, da segurança que tinha ao lado dela, do pai e dos irmãos. E que a mãe e o pai e os irmãos se foram para o outro plano de vida, ele sentiu na alma o choque da sensação de desamparo; choque que ainda lhe corria na alma.
― Tá. Mas por que eu quebrei os palitos de picolé?
― Sem família – ele disse, calmamente. – a gente é frágil que nem um palito de picolé; mas com a família a gente é forte que nem quatro palitos de picolé, um sobre outro.
No silêncio, entre eles, a mocinha, pensativa, escorou-se no banco, arrumou o cabelo bonito atrás das orelhas e, olhando para a figueira, cochilou. O velhinho a acompanhou nesse soninho e, ao acordar, viu que dela ficaram quatro palitos de picolé no banco, um sobre outro, amarrados por fios de cabelo. Aí ele abriu um ar de sorriso e se foi para casa.