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terça-feira, 19 de maio de 2020

Se Tisca falasse...

A muitos fugiu a sorte do lar, o biscoito, a água limpa e o sorriso da mamãe pela manhã. E o mais legal: o fiel companheiro a conversar e a dar corrente em um pas-seio alegre pelo parque, onde o Rei Sol quer brincar com a gente.
Falo em sorte como bênção que tem o momento de acontecer. Que passem os anos aos trancos, como a viver pelas calçadas, a dormir o olhar nas mãos de quem se alimenta, a saltar a um osso atirado para esse fim, a levar chutes e até ouvir “sai pra lá, cãozinho do diabo!”
E a bênção que falo não tem tamanho. Só de ela passar a borracha nas dores, a se fazer no ponto de nova vida e dar cores a tudo, já se sabe que quem a envia é infinito.
Sei que tudo isso diria Tisca, se ela falasse. Porque o seu olhar para o céu, para a rua e para a mamãe que a tirou do canil, onde viveu por 6 anos sem ver uma criança a correr com bola, me diz que iria agradecer à benfeitora com uma só palavra: “Obrigada!”

(Crônicas de Quarentena. 2020)