Olhei pra Luana, ela a vê-lo sair, e quase fui-me saltar à frente do emburrado. Iria lhe passar um olhar duro, pra ele ver que estava a queimar a cama por causa de uma pulga. Mas não; deixei-o ir. Entretanto, o olhar de Luana me rogou a segui-lo; que ele estava a fundir a cuca.
Furtivamente, eu segui ao meu intempérico amigo. E na sua primeira parada, oh Deus! Um boteco, um inferninho, um plaisir de soirée do Umbral: moços bêbados, moças sôfregas, vozes trôpegas, seios flácidos, flapt, flapt a bailar, a voltar ao decote. E que eu quis o Sinal da Cruz, ele saiu dali, voltou a trocar pernas. Ufa!
Adiante, Téo encontrou um conhecido. Um carinha sujo, tristemente lembrando a um pobre morador de becos. Não dei bola ao que concordaram, e Téo seguiu, apressando o caminho. Daí quedou-se ao portão de uma mansão, onde se iria dar uma festinha.
O porteiro, ao ver a boa feição de Téo ― feição mudada pelo bater pernas? ― abriu-lhe o portão. O porteiro estalou dedos e disse: “Qualquer coisa, você é meu amigo”. Então ele entrou, e eu, no ofício que me impôs o olhar tristinho de Luana, saltei à grade pela parte erma do jardim, e fui-me esconder deles atrás de um oleandro.
Mas olha só, Téo também não tem tarimba: ir-se encontrar, de cara, com as garotas, ainda mais a Lulu, a aniversariante? Hã! Um irmão dela bufou, e bufou outro irmão mais cabeçudo, e Téo pegou, pra minha alegria, o caminho do portão que o porteiro escancarou às pressas.
Segui ao meu intempérico amigo, na sua volta. Não me preocupei com os plaisir de soirée do Umbral do caminho, porque Téo voltava de instinto e alma para Luana. E assim que apontou a cara na porta, o menino da casa, que chegara da escola, gritou à mãe, a mãe que nem sabia que o cãozinho havia saído às ruas: “Mãeê, Téo voltou!”
Voltou, parou no meio da sala, olhou pra um lado, saltou-se ao sofá, juntou-se à Luana. Daí, com eles em paz, Téo de carinha seca nas patas dela, eu vim-me embora. Vim, vibrando com o instinto de carinho e dependência que os conduz. Sei do árduo trabalho que terei para com o jeito de Téo, assim que ele deixar o plano físico. Até lá, é claro, ele há de se amuar pelas coisas à toa, um trocinho que Luana disser dos olhos pra fora.
Glaucia Jose Lara
ResponderExcluircurtiu isso: TÉO E LUANA
Maria Do Carmo Ferreira
ResponderExcluircurtiu isso; TÉO E LUANA
Essa mania de ficar emburrado por conta de coisas ditas dos olhos pra fora...Historinha encantadora como sempre encontro aqui. Gostei demais!
ResponderExcluirDilce Nery Toledo
ResponderExcluirLindo! A emoção de Luana , o amor e o carinho fo Téo um sentimento de um verdadeiro amor incondicional! Bjs
Bom dia Marcio.
ResponderExcluirLindo demais esse conto! A sensibilidade age no impulso e a amizade por toda a eternidade... Lindo demais, amei, parabéns!
Beijos, lu e Vivi
Marisa Piedras
ResponderExcluirAdorei!!
É tocante esse conto, Marcio, profundamente sensório e mostra a importância do laços afetivos que unem as criaturas, quando os mesmos são sinceros. Parabéns, amigo, e um grande abraço.
ResponderExcluirTéo, figura especial e indispensável...Puro amor...Sobretudo quando volta de instinto e alma pra quem de fato o ama! Muito bem arquitetado o seu conto, Marcio. E muito gostoso de se ler. Ah, se todos tivessem um Téo em casa...
ResponderExcluirSuas estórias sempre nos encanta e comove. Parabéns, Márcio! Abraços, Ysolda.
ResponderExcluirBoa noite Márcio, parabéns por tecer um conto belo e mágico!!Abraços, Van.
ResponderExcluirUm belo e sensível conto, amigo! Parabéns! Abraços!
ResponderExcluirCeiça Lima
ResponderExcluirmarcou com +1: TÉO E LUANA
Perfeito e comovente conto com arte Marcio.
ResponderExcluirAbraços
Uma bela construção onde há emoção.
ResponderExcluirMárcio por metáforas muito inteligentes foi nos passado uma bela mensagem, quem souber entendê-las verá uma mensagem espiritual, quem não verão uma bela história dos elos indestrutíveis da amizade, abraços e muita paz, Luconi
ResponderExcluirJulia Viana
ResponderExcluirExcelente seu conto poeta MarcioBuriti Texto,ficou cheio de profundidade!,parabéns!Uma ótima noite cheia de paz!
Eles sempre voltam, Márcio. Ou seja: quase sempre. Porque há um momento no qual eles não podem voltar mais.
ResponderExcluirLinda historinha! Tudo de bom pra você.
Lia Fragmentos De Cotidiano
ResponderExcluirQue lindo conto MarcioBuriti! Adorei!
Achei uma história muito rica e encantadora, Márcio. Gostei muito.
ResponderExcluirAbraço,
Renata
E a surpresa? Essa foi a melhor que o intempérico amigo podia aprontar. E eu achando que era outra coisa rs... Com a marca Buriti, deu nisso! Amei!
ResponderExcluirTocante seu conto poeta Marcio,profundamente nos comoveu a história,gostei muito!Um abraço da Liana.
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