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quarta-feira, 19 de março de 2014

Mariinha Mineirinha


ZÁS! Salta à ruazinha Mariinha Mineirinha. Xap! Xap! A curva da corda do pula corda cutuca a rua de chão. Entra! Entra! ― gritam os batedores, e Mariinha entra no pula corda. Xap! ― A curva da corda levanta poeira, e os pezim de Mariinha, plaft, plaft, tamborilam no chão.
      Atrás de Mariinha e o pula corda, a igrejinha. Há quermesse: bandeirinhas, luz de rojão que ficou no ar, cãozinho prali, pracolá, povo vestindo a tear. Um menino, remûe na testa, corre... Ao pula corda? Nada. Vem é a gritar: “Mariiinhaaa! Saiu o bolim de mio frito!”.
    Mariinha nhac, nhac os bolinhos de milho da quermesse. A ponta da trança do cabelo, tibum no suco de ananás. A mãe se inclina: “Ó Mariinha, come devagá!”. O pai coça o cocoruto: “Deix’ela, coitadinha!”.
           O sol bate nu’a cumeeira colonial, e um  raio dele escapole pro céu e vira lua; luadia. Dois pombinhos na ponta da cumeeira quietam o facho do namoro - sob o sol e a lua - pra espiar Mariinha na rua. Ih! Ela põe língua a eles, e eles, no chispar do lápis estão na outra ponta da cumeeira; e crroo, crroo, crroo recomeçam o facho.
        Praft, praft, e Mariinha  volta do céu; do céu da Amarelinha. Amarelinha traçada a graveto na rua. Quiçá seja bem-te-vi, o passarinho que a vê pular. Ou um canarinhão, canarinho que o lápis borrou de não caber num ninho. Que singular passarinho! Dum lado é verde, corzinha dos sonhos dos meninos; do outro é terra, corzinha dos pezim de Mariinha.
           À frente de uma casa, uma mulher de riscos magros e saia torta. Diz o tino qu’ela saiu pra ver na rua os meninos; eles no Coelhinho Sai da Toca. Braços pra cima, cabelo em cinco traços, ela ouviu de Mariinha: “Coelhinho sai da toca, um, dois, três!”. Será que a mulher sonha ser do caçador a perdida coelhinha?
           “Se aquieta,  Mariinha!” ―  a mãe lhe aponta a cama. Mas, ah, não! Agora a rua estava vazia. Agora não tinha ar de graça nenhuma, e o homem fecha o caderno de desenho das crianças. Mas, saudoso, volta ao desenho em que Mariinha dorme e diz: “Vai, Mariinha Mineirinha, acorda. Vai!”




31 comentários:

  1. Marcio, tuas histórias são sempre de agradar a grandes e pequenos!Essa. mais uma!

    abraços,chica

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  2. Mañana Márcio. Fantástico. Un hombre con las historias de los dibujos infantiles. Muy hermoso. Beso. Stell.

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  3. Glaucia Jose Lara Gomes
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  4. Mariana Oliveira
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  5. Lia Barone
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  6. Rafael Borges
    Curtiu isso. Legal Buriti!

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  7. Oi Marcio, uma linda história meu aplausos perfeito, adorei..abraço.

    MARIA MENDES

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  8. Ana Soares
    viajo com os seus textos..

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  9. Você consegue com suas lindas historinhas fazer com que eu volte a minha infância e sentir criança outra vez. Tenha uma boa tarde Márcio! Carinho da Cida.

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  10. Vera Delpuente
    lindo Buriti to precisando voltar a ser "mineirinha Mariinha" bjus

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  11. Cida Peres
    Um encanto suas historinhas! Carinho da Cida.

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  12. Ceiça Lima
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  13. Maria Mineira
    Minas Gerais tem milhões de Marias, Mariinhas. Gostei tanto que vou fazer de conta que a Mariinha da história é a menina que eu fui um dia... Parabéns!

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  14. Ana Bailune
    Lindo, Márcio. Uma honra para mim o seu convite!

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  15. Regina Oliveira
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  16. Juracy G. Andrade
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  17. Sônia Iunes
    Seus textos são lindos! Parabéns!

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  18. Ana Bailune, sempre impecável em sua escrita, desenhou a Mariinha sonhadora. E você lhe deu vida na continuação, descrevendo a criança que brinca e cuja observação deixa, de fato, saudade da infância. Que ela logo acorde para tornar feliz os olhos do homem que desenha. Encantador, Marcio. Bjs.

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  19. Magnífica leitura de dois escritores de peso. Passando para desejar-lhe feliz dia do blogueiro. Abs

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  20. Vera del Puente
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  21. O céu tem nuvens fantásticas, Márcio, cujas portas guardam nossos sonhos e fantasias, desenhados nas cores de canarinhos e flores. E, pelas escadas de suas crônicas, conduzidos até lá, ficamos a abrir janelas sobre as quais nos debruçamos para os olhos visitarem o horizonte infinito do coração. Parabéns por mais esse belo trabalho literário! Abraço.

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  22. Vanice Zimerman Ferreira
    Parabéns!!Belo!!Abraços, Van.

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  23. Você sempre escrevendo com a alma e profundas palavras,poeta Márcio, seus textos são todos excelentes, já tem a sua marca de talento,aplausos! Um abraço de carinho deixo,Liana.

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  24. Olá Márcio,

    Linda a apresentação da Ana bem como o seu delicioso texto, que remeteu-me a inesquecíveis momentos da infância.
    Ótimo domingo.
    Abraço.

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  25. Que bom nos remeter à infancia. O tempo passa mas nossa memoria afetiva guarda os bons momentos.Conceição Gomes.

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  26. Nossa Marcio eu adoro contos infantis, olha só que maravilha, teu belo conto me fez sorrir pelo tempo que o estava lendo, muito bom viajar novamente pela infância, abraços Luconi

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  27. Como vai, tudo bom?
    Olá Marcio,
    Quanto tempo né !
    Ainda bem que a vida nos aproxima através de suas histórias.
    Parabéns poeta e amigo...por tudo que faz!
    Saudades de vc....um beijo
    Lu Santana

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  28. Boa tarde Marcio.

    Você e Ana fizeram uma linda parceria aqui, eu amo a inocência que consegue transmitir nas ações descritas... Nossa, como me lembra Minas...

    Senti a poeira da corda me visitando a pele, junto com o sol a fio... rs...

    Parabéns, aos dois! Um beijo em cada coração, lu.

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  29. Dalvalucia C. Oliveira
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  30. Ysolda Cabral
    marcou com +1: Mariinha Mineirinha (Coisas de desenhos de crianças)

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  31. Como é que se pode entrar num desenho e sair de lá assim, impregnado de sons, cores, movimento e magia? Aqui pode. Então Mariinha existe e a gente a ama na horinha! Que beleza!

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