Cochilou no banco da pracinha, ao clamor de chuva das cigarras; porém o movimento de alguém no banco o despertou: foi o de uma menina-moça, que ali se sentou para chorar.
O rosto escondido pelos cabelos, e o impertinente inspirar pelo nariz, não o deixaram alheio ao desgosto que ela vivia. “Perdão, menina. É coisa de namoro?”.
Sem olhar para ele, ela balançou a cabeça que não.
Um tempo para assobiar uma modinha, olhando as ruas e a ela, de rabo de olho, e ele soltou a pergunta com a qual acertaria em cheio: “Ideia de deixar a família, fugir de casa?”.
Ela balançou a cabeça que sim, e ele procurou no seu baú de vida a tangência que encolhesse a sua ideia; que a reduzisse ao pingo do i no espelho do céu: “Vamos comer picolé?”.
Ela hesitou, mas balançou a cabeça que sim. E que comeram picolés, ele lhe pediu que quebrasse um palito. Ela o fez; porém não quebrou quatro palitos, um sobre outro: “O que quer dizer com isto?” – ela soltou a voz cansada de choro.
Ele falou da sua vida, do refúgio ao colo da mãe nas noites de tempestade, da segurança que tinha ao lado dela, do pai e dos irmãos. E que a mãe e o pai e os irmãos se foram para o outro plano de vida, ele sentiu na alma o choque da sensação de desamparo; choque que ainda lhe corria na alma.
― Tá. Mas por que eu quebrei os palitos de picolé?
― Sem família – ele disse, calmamente. – a gente é frágil que nem um palito de picolé; mas com a família a gente é forte que nem quatro palitos de picolé, um sobre outro.
No silêncio, entre eles, a mocinha, pensativa, escorou-se no banco, arrumou o cabelo bonito atrás das orelhas e, olhando para a figueira, cochilou. O velhinho a acompanhou nesse soninho e, ao acordar, viu que dela ficaram quatro palitos de picolé no banco, um sobre outro, amarrados por fios de cabelo. Aí ele abriu um ar de sorriso e se foi para casa.
Que lindo! Que delicadeza de lição de vida! Excelente, nesta época de natal.
ResponderExcluirYay! Qué hermoso mensaje, amigo Marcio! gracias por acordarse de mí. Veno siempre aquí en su página. Beso. Stel.
ResponderExcluirCeiça Lima
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Mais uma história emocionante e cheia de significados. Gostei demais! Parabéns, Márcio Buriti!
ResponderExcluirBelíssimo texto, dele escorre com leveza uma grande lição de vida. Parabéns, Márcio. Feliz Natal e um novo ano pleno de tudo aquilo que você desejar.
ResponderExcluirClaudio Roberto curtiu isto.
ResponderExcluirLogo de começo leio: "ao clamor de chuva das cigarras". Chego ao "Aí ele abriu um ar de sorriso e se foi para casa", e me calo, com a parnasiana impressão que li versos. Aplausos, Mestre Marcio Buriti!
ResponderExcluirFlor Morenna marcou com +1.
ResponderExcluirO Berço do Mundo marcou com +1.
ResponderExcluirRegina Oliveira curtiu isso.
ResponderExcluirBelo, parabéns!!Boa tarde Márcio, abraços, Vani.
ResponderExcluirSabedoria entre linhas, um texto suave e solidário, parabéns amigo, beijokas de boa noite
ResponderExcluirBom dia
ResponderExcluirAgradeço a visita e a oportunidade de chegar até aqui.
Não sei o que é um picolé, mas sei bem dessas figuras que aqui descreve.
Encontros no tempo, conversas sem pressa com efeitos imprevisíveis
Um abraço e se me permites - Votos de Boas Festas.
LIANA TINS
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Maria Zeni Bannitz
ResponderExcluircurtiu isso.
Ola Marcio!
ResponderExcluirSempre uma bela historia por aqui e muito bem contada!
Hoje venho em especial para deixar os meus sinceros votos...
Que você tenha um natal cheio de harmonia, saúde, paz e amor, com todas as dúvidas eliminadas e as certezas reforçadas para um incrível 2014l! Que as bençãos de Deus sejam derramadas sobre ti incessantemente a trazer-lhe otimas realizações.
Boas festas e feliz ano novo!!!
Um abraço bem apertado!
A adolescência é a época das experiências novas e, principalmente das angústias.
ResponderExcluirÀs vezes fatos corriqueiros causam ansiedade no adolescente. O nosso personagem do texto com experiência de vida soube penetrar no universo da juventude e mostrar através de gesto singelo a importância da força da família em nossas vidas.
Os dois saíram vitoriosos naquele simples encontro, e o nosso escritor mostrou também que é " fera " em contos que não sejam infantis.
Belo trabalho, meu amigo. Parabéns!
Verdade: juntos somos mais fortes que fracos! Abraços e Feliz Natal :-)
ResponderExcluirBeleza e simplicidade numa lição de vida que enxugou as dores da garota adolescente e abriu-lhe os olhos do coração. Engraçado que eu sempre traduzi alguma poesia nos palitos de picolé, mas nunca consegui traduzi-la em palavras, apenas fazia com eles artesanatos: porta-joias, porta-canetas e lápis, porta-recados..., depois envernizava-os e os dava de presente às amigas mais íntimas. E hoje me deparo com toda essa magia em texto desse encantador de palavras que eu tanto admiro! Meu coração sempre o aplaude, Márcio! E que 2014 coroe de êxito todos os seus projetos e lhe traga das bênçãos recebidas muitas inspirações para que continue compartilhando conosco da beleza de sua alma. Feliz Ano Novo!
ResponderExcluirQue belo! A sabedoria possibilita uma ajuda simples e eficiente. Em seu conto, um ensinamento frutífero e cheio de verdade.
ResponderExcluirMárcio, desejo-lhe um 2014 de muita paz e harmonia, de forma a lhe permitir grandes realizações. Abraço.
Marcio,sempre que leio a sua escrita mais admiro a sua forma de escrever.Há um velho ditado que, ainda nos diz muito nos dias atuais," A união faz a força", e faz mesmo, melhor ainda quando esta união é composta por nossa família. Bela analogia com os palitos de picolés. Grande abraço! Feliz Ano Novo!
ResponderExcluirPoucas vezes li algo tão belo e sábio, mas de Márcio, é o que esperamos... Para mim, um dos maiores peotas que tenho lido. Parabéns, sempre, meu amigo.
ResponderExcluirÉ sempre muito bom '' passar um rabo de olho por aqui.'' Tão bom quanto ''comer'' quatro picolés e deles possuir a riqueza dos quatro palitos. Abraço pernambucano e votos de um Ano Novo pleno de Luz, para você e os seus.
ResponderExcluirUm toque de sabedoria vale mais que mil lições. E aí, o velhinho era dos sábios... Uma beleza. Sempre bom dar uma escapadinha pra vir aqui ler coisa bonita rs...
ResponderExcluirFantástica lição de vida, tirada do cotidiano e com a sua arte de escrever. Beijo, lindo!
ResponderExcluirAnnalucia O. Rori