Eram seis. O pai, a mãe, Dinho, irmãozinho mais velho que Juquita, o cãozinho Cipó e Zeca, o papagaio.
Eram felizes até que um dia um vento nunca sentido, trovões nunca ouvidos, dos de balançar prateleira, e um raio, uma chicotada de raio que caiu sobre a rocinha aonde o pai trabalhava.
Daí eram cinco, e seu mundo foi ficando cinzento. E quase sem cor de tudo ficou quando Dinho se levantou antes do galo e sumiu das suas vidas.
Daí eram quatro, e Juquita escreveu de vermelho na sua historinha: Não há nada mais amargo quanto me foi sentir os soluços da minha mãe. Nem que o Céu e as estrelas e os passarinhos deixam de existir, isso não é mais triste que foi ver minha mãe em pranto.
Um dia, Juquita não foi à escolinha. Deixou-se ficar com Cipó e Zeca à jabuticabeira. Ficou a riscar o chão com graveto e a olhar à mãe de rabo de olho. E quando seus olhares se encontraram, ela o chamou: “Vem cá, filhinho!”
Minha mãe recomeçou a nossa vida, ele escreveu em vermelho. Pegou as minhas mãos, olhou-me nos olhos, disse que, a partir daquele momento, Santa Terezinha estaria com a gente. E aí o mundo foi pegando suas cores, e o trilho torto da nossa vida se endireitando.
Sim, os pássaros, aos bandos, voltaram a revoar sobre o quintal, Cipó a saltar nas pernas de Juquita, chamando-o para brincar, e Zeca tagarelando como nunca. E foi aí que, num quase amanhecer, Juquita dormindo aos pés da mãe, ela o acordou: “Juquita! Juquita! Que é que o Cipó tanto late?”
Seria o quê, um pobre tamanduá caçando formigas? Ou um guará? Ou um cãozinho abandonado, faminto? Juquita enfiou os pés nas chinelas, esfregou os olhos e saiu. Abriu a porta bem devagar e se agachou para melhor visualizar o que era. E, para lhe soltar lágrimas no rosto, a sua frente estava o seu irmãozinho Dinho.
Mãe sente as coisas, e a sua mãe já estava no meio da saleta, chorando pela emoção da volta do filho. Era o calor do seu filho no seu abraço! Mas não foi só isso: Juquita viu, ali, uma mulher de véu cinza e vestido de muitos panos em amarelo-creme ao lado do seu pai. Eles sorriram para ele e sumiram.
Juquita desconfia, e ainda não o disse à mãe, que a linda mulher com seu pai, ao abraço da sua mãe no Dinho, seja Santa Teresinha. E destacou: "E a gente é feliz de novo."
Uma história triste com final feliz, ainda bem...terminei de ler com lágrimas. Prazer em poder ler você. Carinho da Cida.
ResponderExcluirEsse seu jeito de narrar é especial, Marcio. Eu me delicio com seus contos. A linguagem, própria do "interiorzão", nos faz penetrar naquela casa e conviver com os membros da família. O trilho torto da vida voltou a se endireitar, com a ajuda de Santa Terezinha. Abraços!
ResponderExcluirParabéns pela inspiração e criatividade! Abraço, Inês
ResponderExcluirMarcio, Boa noite! Como voce consegue escrever tão belo, tão real, tão humano, tão, tão, assim, com esse jeitinho todo especial, que nos leva tão carinhosa e encantadoramente, para dentro das narrativas envolventes por demaisss..Meu forte abraço e uma linda noite, viu?
ResponderExcluirÁrvores com nome de gente... Subir nas árvores só com a ''força do corpo que boia no poço'''... Talento, sensibilidade, criatividade e respeito pela Natureza que é a própria Vida! Coisa mais bonita, Márcio! Parabéns!
ResponderExcluir"Minha mãe me recomeçou"... Que lindo! Uma história com uma sensibilidade que toca no coração e traz lágrimas aos olhos. Você consegue levar o leitor a sentir o mesmo que os personagens. Parabéns! Adoro suas histórias. Abraços
ResponderExcluirLindo, Marcio, como sempre... acho que ele compreendeu que ir para longe não significa desgrudar-nos das ausências, pois nós as carregaremos sempre conosco; é preciso buscar dentro das ausências uma presença que ainda permanece, a aprender a conviver com esta presença de uma maneira diferente do que era antes.
ResponderExcluirSempre lúdicos e tocantes os teus textos! Obrigada por compartilhar! Parabéns, abraço carinhoso!
ResponderExcluirLendo, relendo e nunca me canso de vir aqui nesse mundo encantando dos contos. Parabéns!
ResponderExcluirFazer chorar não vale!
ResponderExcluirEmoção total. Lindo! Beijo, Marcio Buriti.
ResponderExcluirAdriana Mendes
Chorar por um texto só se ele for tão bonito e emocionante como a historinha do menino Juquita.
ResponderExcluirBeijo, lindo escritor!
Joelma Christina.
Uma das melhores emoções de leitura que já passei. Lindo!
ResponderExcluirBeeeeijo, Marcio!
Mariana Andrade
Uma bela historinha, um enredo e tanto, com a presença de Santa Terezinha. Bravo, Márcio!
ResponderExcluirMário Rossi
Nossa, que lindo! Chorei,
ResponderExcluirYara Mira.