Dedico esta pequena história à médium-poetisa Luconi Márcia Maria pelo seu excelente e vigilante trabalho de nos transmitir as joias literárias do Plano Superior.
ANTES que a saudade me lançasse rédeas, eis-me aos olhos com minha vila encravada entre serras, o meu berço de ar ingênuo doado pelas flores serranas, que, tendo a lua e as estrelas por parteiras, davam à luz nas calçadas nuas.
Como a me deslizar no encanto, seguindo ao estalar de dedos da emoção, desci a serra pra me sentar num banco e noutro da praça da Igrejinha de Maria. Daí, curvei-me à igrejinha e sai pelas ruazinhas desertas, de beiras floridas.
Ali, a casa de fulano: bati palmas, o cãozinho latiu, mas não havia ninguém na casa. Ali, sicrana: o papagaio dela engrolou, mas ninguém me ouviu. Ali e ali, ali a minha casa, do jeitinho que a deixei. Então, parei instante no alpendre, torci a maçaneta, a porta se abriu, sentei-me no sofá.
Não estranhei a porta ao trinco. Minha irmã, que cuida da casa, depois que me mudei, tem a sua pra cuidar; além disso, na vila não havia ladrões. Então fiquei ali para surpreendê-la, mas algo saiu errado: pessoas saltaram ao muro e forçaram a porta dos fundos. Do sofá, vupt, eu dos pés à cabeça atrás da cortina.
Ploc, ploc o coração, reconheci a voz dos jovens invasores: “Meu, o panaca tem relójo de ôro e pulsêra.”. “Vê aí, cara, eu vejo aqui.”. “Meu, é levar e torrá, falô?”. “Falô, mas arreda essa cortina.... Mais luz no pedaço, meu.”
Abrir a cortina? Eu me gelei. Não de medo, mas de vergonha de vê-los a me roubar; logo eles a quem eu fui uma mão na roda. Então a cortina vrapt, e, estranho, eles não me viram, e levaram as minhas coisas. Atônito, fiquei no meio da sala até que uma forma luminosa de pessoa ali se fez e me deu a mão: “Chega disso aqui, tiozinho. Há um mundo e pessoas maravilhosas a te esperar. Venha!”
Peguei a sua mão, vim-me embora com ela pra viver neste lugar feliz, que aí na Terra é sabido por “Além”. Vivo contente com meu trabalho e meus veros e antigos e novos amigos.
Além do imaginário. Sublime e único com esse jeito de contar que só Marcio tem. Então é pedir licença, pondo a mão no trinco, na tranca dessa porta e ir se aninhando ao sofá, pra escutar, pra ler, pra ficar sabendo dessas coisas boas de saber. Parabéns, Marcio.
ResponderExcluirCarlos Porras
ResponderExcluirmarcou com +1: "ATRÁS DA CORTINA"
Vera Regina Cazaubon
ResponderExcluirBom dia mestre em histórias, mais uma que, nas suas entrelinhas expressa sentimentos e sabedoria, beijokas e uma boa semana.
Silvio Oliveira De
ResponderExcluira historia é linda como as outras.
Mario Arita
ResponderExcluircurtiu "ATRÁS DA CORTINA"
Olá Márcio,
ResponderExcluirGosto muito desse tipo de conto. Leio muito livros e artigos sobre a vida após a morte e também sobre pessoas que desencarnam e ficam 'perdidas', pois desconhecem seu estado atual.
Adorei ler.
Grande abraço.
Lúcia Freitas,
ResponderExcluircurtiu "ATRÁS DA CORTINA"
Vera Del Puente
ResponderExcluircurtiu "ATRÁS DA CORTINA"
Ana Santos
ResponderExcluircurtiu "ATRÁS DA PORTA"
Sônia Iunes
ResponderExcluirLindo como os outros contos. Precisa colocar em livro.
Vera del Puente
ResponderExcluirbonita demais,,,fiquei emocionada
LIANATINS POETISA
ResponderExcluirmarcou com +1: "ATRÁS DA CORTINA
Marcio estou aqui com um sorriso de orelha a orelha, você dedicou um conto de grande envergadura moral a mim e eu fico sem palavras, obrigada de coração. Agora teu conto nos dá uma lição e tanto, além de nos mostrar a vida além da vida, nos ensina que os bens materiais de nada valem, nada adianta a eles nos apegarmos, parabéns e muitos aplausos. Mais uma vez obrigadão abraços Luconi
ResponderExcluirO outro lado da vida há de ser rico em pureza. Nele não haveremos de encontrar injustiças, invejas e tantos outros sentimentos negativos e, envenenadores. O seu texto nos dá a entender isso. Nele percebemos o conflito de quem partiu e de quem ficou.. e dos bens que aqui restaram. Parabéns, querido Márcio
ResponderExcluirUm conto de final surpreendente. Maravilhoso! Muita luz e paz nessa semana que se inicia. Abs.
ResponderExcluirBom dia Márcio, seus textos emocionam, fazem bem ao coração e alma, parabéns!! Uma linda semana! Abraços, Van.
ResponderExcluirAntenor Rosalino
ResponderExcluirCaro Marcio, é impossível para mim ler apenas uma vez essa prosa poética de tão sublime encantamento. Denota a finitude motivada por uma situação trágica e das mais tristes semelhante a outras que se avultam em nossos dias atuais. Aplausos, amigo, um grande abraço e profunda paz!
Odir Milanez da Cunha
ResponderExcluirEscritor Marcio Buriti e suas mágicas palavras! Aplausos, amigo!
Carlos Rodrigues Gondim Gondim
ResponderExcluirmuito bom MarcioBuriti Textos nãqo sendo eu a voltar pros meus cachorros tudo vai bem,parabéns.
Silvio Oliveira De
ResponderExcluirsó vc meu poeta preferido, parabens e otimo final de semana
Vanice Zimerman Ferreira
ResponderExcluirLindo e mágico!!
Ceiça Lima
ResponderExcluirmarcou com +1 ATRÁS DA CORTINA