Quisera eu ser in-antes de vomitar palavras que nunca comi e deixar Dianainha. Agora o eu, besta, sobe a serra de volta, puxando a pedra do ato de contrição, desconfiado de que os passarim me olham de lado, que Dianainha não me vai abrir a porta, que tem alguém co’ela. Diacho!
Corrói-me não ter freado o trem esquisito que me deu, dia lá, que ela cantava numa festa aos zóios querentes de outros. Cego, cismei: “Vômbora docê, Dianainha! Pensa que é só ocê, no mundo? Ocê fica aqui a que quiser!”
Enroscado pelo trem esquisito da cisma, embrulhei minha roupa com o silêncio e fui ao pote molhar a garganta. Quem sabe, aí, ela não garrava minha mão, me pedia pra ficar? Hã, ela se sentou na banqueta e pegou a alisar o cabelão bonito, co’a vista dormida no fogo do fogão. Aí, como não era home de faltar ao “vômbora docê”, saí de casa, saí da vida de Dianainha.
Quisera eu ser in-antes de descer esse caminho, que agora pego de volta, e que serpenteia na serra. In-antes, eu dividia o travesseiro com Dianainha, e me grudava nela pra roubar da sua pele o cheiro do Leite de Rosas... Eu riscava na viola, ela cantava que nem rouxinol. Mas agora eu desconfio qu’ela não me vai abrir a porta, que tem alguém co’ela. Diacho!
Enrosquei minha vida nos tormentos dos lugares, e subo a serra acertado de que Dianainha é só ela, no mundo, e qu’eu não fiquei ao que queria, pois o qu’eu queria virou um vão. A culpa me deixou em silêncio e me forçou à verdade; e a isso eu abracei, pois é a arma que o amor por ela usa contra mim, se esqueço de me vigiar.
Então está; cheguei. O cãozinho nosso, deitado à porta, me olhou que nem os passarim, de lado, e voltou o queixo às patas. Não precisei bater na porta, pois meu coração o fez em tum-tum-tum. Aí ouvi a chinelinha dela, sapt, sapt, e ela abriu a porta, e ela voou em mim, e eu faltei ao sério de que home não chora, e eu fui roubar da pele dela o cheiro do Leite de Rosas.
Adriele Ávila
ResponderExcluirCURTIU DIANAINHA
Que lindo e delicado o seu texto! Primeiro o ciúmes, esse danado... Depois, o arrependimento sem saber se o outro alguém aceitará o perdão guardado nos olhos, e finalmente a certeza de que era só um engano, e que tudo continua como sempre foi... Que lindo!
ResponderExcluirAlfredo Baeza
ResponderExcluirmarcou com +1: " DIANAINHA "
¡ Muy lindo, Márcio ! Muchas cosas en una historia corta. Los celos y sus efectos, y el replanteamiento del hombre apasionado. Muy lindo. Gracias por la invitación. Beso, Stell
ResponderExcluirMais uma vez te vejo ventilando palavras novas e as transformando em poemas prosaicos que a todos nos encanta, poeta Marcio Buriti! Abraços aplausíveis, Odir Milanez.
ResponderExcluirJose Villa Morin
ResponderExcluirmarcou com +1: " DIANAINHA "
Wanda Morbeck
ResponderExcluirDelicia de imagem : "embrulhar a roupa no silêncio". Parabéns.
Edwin Yanes
ResponderExcluirmarcou com +1: " DIANAINHA
Boa tarde Márcio, é especial o seu jeito de tecer as palavras, entrelaçando-as com fios de poesias, parabéns!! Abraços, Van.
ResponderExcluirNo ar um cheiro de Leite de Rosas, e tudo conspirando para cercar esse conto bonito. Subi a serra com o peito apertado, mas um abraço bom e acolhedor deu conta de tudo e do resto. Está de parabéns, Marcio Buriti.
ResponderExcluirCeiça Lima,
ResponderExcluirCurtiu DIANAINHA
Para coroar o final feliz, um cheiro e leite de rosas se aventa e vai se avultando sobre as cercanias do lugar, elevando as almas únissonas para o ápice do amor maior. Parabéns pelo belíssimo conto, Marcio, e um grande abraço.
ResponderExcluirSônia Iunes
ResponderExcluirCoisas do Buriti! lindo conto. Saudades.
Vera del Puente
ResponderExcluirrealmente...."embrulhar a roupa no silêncio" bj grande.
Tatiana Santiago
ResponderExcluirmarcou com +1: DIANAINHA
Ivany Fulini Sversuti
ResponderExcluircurtiu DIANAINHA
Regina Oliveira
ResponderExcluircurtiu DIANAINHA
João Carlos Silvério Duarte,
ResponderExcluircurtiu DIANAINHA.
Flor Morenna
ResponderExcluirmarcou com +1 DIANAINHA
Isaías Medina López
ResponderExcluirmarcou com +1: " DIANAINHA "
Marcele Moreira
ResponderExcluirmarcou com +1: DIANAINHA
Lindo, Marcio!
ResponderExcluirAdorei a leitura.
Abraço.
Olá Márcio, que belo texto, a insegurança faz da gente um boneco sem lei.
ResponderExcluirO ciúme acaba com qualquer relacionamento e nos mata por dentro, belo texto. Grande abraço
Lindo e delicado conto. Até o ciúme, um sentimento que não é bom, se lava de perdão nas palavras pranteadas de Leite de Rosas. Feliz dia dos pais. Luz e paz, Abs.
ResponderExcluirSonya Azevedo
ResponderExcluirCurtiu DIANAINHA
Lu Mansanaris
ResponderExcluirCurtiu DIANAINHA
Lu Mansanaris
ResponderExcluirSempre impecável... Parabéns MarcioBuriti Textos pelo dia dos pais tbm meu amigo!!! um beijão duplo hoje... ^^
Naná Santos
ResponderExcluirParabéns Marcio, por mais um texto impecável. Adoro seus escritos, principalmente o jeitinho matuto de se expressar.
Deixo aqui meu abraço para você.
Marcio, como você encanta! Esse jeito de narrar, tão especial, que possui, nos coloca vendo as cenas e as pessoas, tanto nas atitudes quanto nos pensamentos. Amei! Abraço.
ResponderExcluirCeiça Lima
ResponderExcluirmarcou com +1: DIANAINHA
Marilene Duarte
ResponderExcluirCurtiu DIANAINHA
João Carlos Silvério Duarte
ResponderExcluirCurtiu DIANAINHA
Meu grande encantador de palavras, que bela gradação de sentimentos tão intensos, de encantamento tecendo cenários e sons e magia tão ímpares, lembrando-me Guimarães Rosa! A cada texto você se supera e mais nos encanta! Aplausos meus, com louvor!
ResponderExcluirSeus textos são demais, Márcio. Você é demais. 10!
ResponderExcluirDalline Silva