Era o menino Antônio. O Tonho. O Tuim.
Tuim, porque caía de amor por uns tuins que não saíam do pé de amora de sua casa. Casinha sem reboco, onde morava com a mãe; a mãe que não saía da cama com a morte do seu pai. Oh, Maria de Nazaré! – a cidadezinha se condoia. – Que é da vida deles, ó, Mãe? O Tuim sem pai... E como são tristes os zoinhos de Tuim!
Arranjavam a vida: a mãe, embora doente, se secando a cada dia, pegava pra lavar, passar e encerar. O filho, guerreirinho de mão cheia, limpava quintais e cuidava de plantas. Era o que Tuim sabia fazer com carinho.
Era vírgula, porque um velhinho, um mudo e surdo e pedinte, lhe deu um engraxate. E Tuim, que não sabia o que era um abraço, afora o da mãe, sentiu com gratidão o peito do velho amigo se chocar com o seu. Foi esse o seu primeiro dia no ofício de lustrar calçado, e o último sobre o chão do pobre velhinho.
Ô Tuim! Engraxa aqui, ó! Ô Tuim, vem cá! Ô Tuim, passa lem casa! – era a cidadezinha, condoída. Oh, Tuim! – era a mãe, na cama, vaidosa por ele custear e cozer as suas sopas. Sinto tanto orgulho de você, filhinho!
Um dia, que Tuim dava o de-comer aos tuins, alguém chamou à porta. Era uma jovem senhora da cidade grande, que ali passaria as férias com o filho: Sua mãe está? Ela pode lavar e passar e encerar a minha casa?
A mãe, não. Mas ele, sim. Era um recurso caído do Céu, que a mãe disse ser ajuda de Nossa Senhora, visto que não havia calçado para lustrar, naquele dia. Você?! – a senhora se espantou. – Você tem quantos anos? Uau! Meu filho tem a sua idade...
Abre isso, revira aquilo, a jovem senhora não encontrou o dinheiro que trouxera na viagem. Assim, pagou ao Tuim pelo serviço com o que tinha na bolsa, lhe deu roupas que o filho não queria e disse: Diga a sua mãe que irei vê-la, menino dos olhos tristes. Eu sou médica.
Aconteceu que o verbo ir mudou de sujeito, posto que Tuim, daí a pouco, voltasse à senhora com um embrulho na mão. Estava nos bolsos de uma calça, senhora – disse Tuim Olhos Tristes, ao entregar-lhe o dinheiro sumido.
Hoje, a procissão se desliza pelas ruazinhas, à boca da noite. O nome de Tuim e o de sua mãe, que se recupera num hospital da cidade grande, está na prece cantada. Agora, se você se relaxar e fechar os olhos, você verá a procissão a entoar o cântico à Maria de Nazaré: Aaave-aaa-ve-aaa-ve Mariiiia! Viu?