Ao suspiro do vento, as folhas caem. Aqui, como no morro acolá, que faz pose pro céu, o inverno segue com a peripécia de despir os galhos.
Dormem as árvores, acordam as aves para as sombras a beira-rio. O que fica é um insosso de sem cantos e voejos. Passa tangará, passa viuvinha, passa canarinho... Só não passam os pios de pranto de um pintinho, o Pio-pio-ninguém, que diz o morador; o Ninguenzinho, que diz meu coração.
Ninguenzinho plange a dor aos fiapos de sombra de uma roseira pelada. Chega, espicha o pescocinho e fica a bulir a cabeça que nem ponteiro de relógio; decerto sem ver a hora de fazer a festa do cisco com a mãe e os irmãozinhos. Qual! Seus pios de pranto não se revelam além da linha do seu abandono.
A vida tem dessas parecenças. Há anos, deu-se o abismoso de uma mãe renunciar ao filho, ainda em panos, numa lixeira de rua. Agora é o Ninguenzinho a sofrer o rejeito. E ele pia que pia pelo terreiro, e cada pio é um pontinho do seu coração a se secar.
Mas é que a vida gosta de voltejo e ardileza: o filho largado foi ter-se com uma senhora num asilo, e, se no olhar se brota um trato, ela se foi para a sua casa. E ele lhe foi todo cuidado, espargiu-lhe carinhos de filho com imensa falta da mãe ― e não é que ela fechou os olhos para esta vida sem a coragem do “perdão, filho, por ter-lhe dado à lixeira?”
Ao suspiro do vento, as folhas caem. Aos pios de Ninguenzinho, se cai o pavio do viver, se encaixa mais e mais, por ardileza da vida, o seu convívio com a mãe. No olhar do morador transparece esse preciso: a mãe ao fundo do quintal, largada pelos franguinhos, quiçá mordida por um réptil, quiçá picada pela solidão, recebe o encosto de Ninguenzinho, que lhe bica na asa como a dizer “estou aqui, mãe.”
Até lá, passa tangará, passa viuvinha, passa canarinho... Só não passam os pios de pranto de Ninguenzinho.
Nossa, Marcio! Nem sei o que dizer, se lindinho, tristinho, e ainda aquele encontro do filho com a mãe, nossssaaaa. Muita ternura e emoção. Tadinho do Ninguenzinho. Ótimo texto, beiiiijo.
ResponderExcluirMarcela Silviet
Olha, li, parei para pensar em tudo e veio a lágrima. Nem sei quanto tempo não lia um txto assim, nem sei. Lindo! Nota 10 pra você. beiiijo!
ResponderExcluirMarinalda Ávila
ResponderExcluircurtiu NINGUENZINHO
Olá escritor Buriti, que coisa mais bonita, rapaz. Seus textos são um melhor que o outro, abraço.
ResponderExcluirCarlos Moraes S. Teixeira
Realmente você é 10! Bonito demais, Marcio. Bjo!
ResponderExcluirLarine C Luz
Lindo, lindo, lindo. Parabéns!
ResponderExcluirEllen S. Ximenes S.
Que coisa linda, nossa! Texto para ler muitas vezes, obrigada.
ResponderExcluirAna Augusta
Bom dia Marcio, teu texto tem uma profunda conotação sentimental pertinente ao reino animal, parabéns, bom final de semana, abraços.
ResponderExcluirVera Regina Cazaubon
Emocionante, boa literatura, bonito. Parabéns.
ResponderExcluirPaula Brito
Muito bonito, Márcio. Você escreve muito bem. O encontro de filho e mãe foi demais. O Ninguenzinho também dá emoção, tadinho. Beijo.
ResponderExcluirThamar de Mello
Poético, bem escrito, a vida de um pintinho abandonado se comparando com um abandono de pessoa. Um espetáculo de texto. Harmônico, bom de ler. Abraço.
ResponderExcluirCarlos Gregório Silveira
Oi Marcio, você escreve muito bem, viu? Estou sempre aqui nos seus textos. Beijo, amigo.
ResponderExcluirOlá, Buriti, que texto ótimo de ler, cara. Cheio de ternura, de vida simples. Muito bom mesmo. Abraço,
ResponderExcluirPaulo R. Júnior
Bonito mesmo. Muito bem feito. Bjo,
ResponderExcluirPaulianna M. T. Moura
Muita ternurinha. Gostei. Abraço,
ResponderExcluirPablinne Luísa
É ler e ficar por conta da beleza do texto. Sem comentário, Márcio. Muito bonito. Beeeijo!
ResponderExcluirCristina Curitiba
Muito bonito. Como seus textos, mais um para a coleção de boa leitura. Abraço.
ResponderExcluirDanilo Viça
Buriti como dói este abandono .bonito e triste este texto
ResponderExcluirMeire Oliveira
Vanda Lucília
ResponderExcluircurtiu NINGUENZINHO
Vera Del Puente
ResponderExcluircurtiu NINGUENZINHO
Marcio até que enfim consegui acessar os comentários por aqui, nos três ultimos contos não consegui, enviava os comentarios rodava, rodava e nada, já estava preocupada, pensava o amigo acha que o esqueci e jamais esqueceria um escritor que escreve belos contos, belas narrativas que nos coloca a pensar e a imaginar situações vividas, este como os outros é magnífico, parabéns, beijos Luconi
ResponderExcluirEsse texto tão singelo, poético e descrito com brilho literário tão belo e irretocável não dá para ser lido apenas uma vez, mas muitas vezes mais. Meus aplausos, caro Márcio, por essa preciosidade e um fraternal abraço.
ResponderExcluirEsse texto tão singelo, poético e descrito com brilho literário tão belo e irretocável não dá para ser lido apenas uma vez, mas muitas vezes mais. Meus aplausos, caro Márcio, por essa preciosidade e um fraternal abraço.
ResponderExcluirAntenor Rosalino
Muita ternura, e relação de vida chocante. O texto é ótimo, Márcio Buriti. Abraço,
ResponderExcluirPaulo Juret
Sempre um texto bonito, Márcio. Beijo.
ResponderExcluirNayara R. Santos
Você sempre nos doando beleza em forma de literatura. Gosto muito do seu estilo. Inconfundível. Beijo, menino.
ResponderExcluirLudmila
Talento, amigo. Você tem o jeito para a boa escrita. Parabéns!
ResponderExcluirÉden Lourenço
Muito lindo, emocionante. Parabéns, Marcio. Beijo.
ResponderExcluirMichelle Fonseca
Olá Marcio Buriti, de Lisbon apreciando seus textos lindos. Abraço,
ResponderExcluirClenio Cloud Souto
Muito legal. Vc escreve muito bem. Abraço,
ResponderExcluirEduarda P. Fátima Souza
Muito leal ler uma história assim. Muito mesmo. Beijo.
ResponderExcluirBeatriz Rosa
Grande texto, grande autor. Li mais dois textos e todos muito bons. Deixo meus parabéns pelo dom de escever. Abraço.
ResponderExcluirDanilo S. Ventura
Oi moço, de Teresina curtindo esse texto e outros textos seus tão lindos. Beeeeeijooooooo!
ResponderExcluirMariana Rô
Lindo, você tem o dom de escrever tão bonito. Abracinhoooo;
ResponderExcluirRegina G. Rosa
Lindo demais! Beijo de parabéns!
ResponderExcluirDarc C. Alcântara
Muito bem! Texto muito cheio de ternura e ensinamento. Gostei muito.
ResponderExcluirRodrigo Barcelos
Olá Márcio, você capricha muito nos seus escritos. Leitura agradável em todas. Beijo!
ResponderExcluirMaria Ape Cézar
Muito bom estar aqui no seu blog, a gente não vê o tempo passar. Abraço,
ResponderExcluirRenata Vilhene Mathias
Legal mesmo. Muito obrigada por nos oferecer lindos textos. Abraço, Márcio!!!
ResponderExcluirÉrica Regina Washington