SERIA mais um dia da vidinha de regar as plantas, tomar o café e ir dar corda à solidão, na rede da varanda. Isso se não lhe batesse a falta de energia e concentração, que, da noite para o dia, se fez dona dos seus anos de vida.
Num esforço hercúleo chegou ao posto médico. No primeiro parecer, nada de importante diagnosticado; um desconforto virótico. Mas dias depois, num exame minucioso, revelou-se a insuficiência renal como a força motriz da sua revolta.
O que eu fiz, ó Vida, para ser entregue às clínicas e às picadas de agulha? No auge da revolta, Deus lhe havia traído. Daí, que tudo se danasse... Que o mundo fosse sugado pelo buraco negro do universo, importava-se lá.
Um dia, na cama, em desânimo profundo, viveu um revérbero da infância: a casa simples, os pais, o quintal aberto e cheio de plantas e frutos; e como membro da família, um cãozinho, o Bambino, a correr com ela na rua descalça.
Bambino! Que cãozinho interessante, que se sentava e cravava nela os olhinhos de jabuticaba, querendo brincar... Bambino! – disse sem querer, como o dizia na infância, ao vê-lo na sua cama. Bambino? – voltou a dizer ao cãozinho que a observava do vão da porta. Bambino! É você?! – sentou-se na cama, espantada.
Não. Não podia ser. Bambino morava há anos e anos em outro plano de vida... Então que cãozinho aquele que lhe puxava o lençol e o travesseiro, e que a tirou da cama para regar o jardim? Que cãozinho danado que a fez correr com ele pelo quintal?
Vai Bambino, corra! Pega! É isso, garoto! Você não é o meu Bambino de criança, mas se parece muito com ele, viu? Vem, é hora do banho... Era a hora, mas de ela ter a vida de volta: o telefone insistiu, e do hospital lhe informaram que um rim a esperava.
Um mês depois, que já cuidava do jardim e dos pássaros do jardim, e que contemplava o céu recamado de estrelas, sentiu saudade do cãozinho que se havia desaparecido. E no outro dia, que o buscou na vizinhança, nenhuma criança deu notícia de Bambino... Aliás, ninguém o havia visto ou ouvido; nem soubera da existência do cãozinho.
Ué! – é ela de mãos à cintura no meio do jardim, cheia de saudade de Bambino, o cãozinho que a tirou da cama, e pasma com seu sumiço misterioso.
Qué hermoso Márcio! Una historia para ser salvo y para siempre! Bravo! Estella.
ResponderExcluirGracias, Estela!
ResponderExcluirO cãozinho na realidade não havia morrido. Ele já fazia parte da vida da personagem. Ele, o amigo de todas as horas, entrou em sua vida sem pedir licença e de lá não mais saiu. Lembrado sempre , principalmente nas horas de precisão. Eu amo os cães e os seus textos. Tocou-me bastante a mensagem..
ResponderExcluirBj. Parabéns!
Que lindo, Márcio... acho que o Bambino mandou um mensageiro para ela saber que era amada. Maravilhoso!
ResponderExcluirBelíssimo texto, Márcio. O amor salva mesmo, da tristeza, da amargura, slava até vidas.
ResponderExcluirBom Dia! Gostei do Texto...Bjoss.
ResponderExcluirMaria Norma Wayand
Linda e comovente história... Parabéns, Márcio! Ler você é puro encantamento.
ResponderExcluirInteressante a perspectiva que abordou sobre a presença do cãozinho, que pode se interpretar por vieses diferentes, desde o espiritual, até à carência afetiva. Abraços,
ResponderExcluirCelêdian Assis
Muito bom! *_*
ResponderExcluirLia Barone.
Parabéns amigo MarcioBuriti Texto. Belíssimo texto. Bjo
ResponderExcluirCeiça Lima
Marcio, sempre me encanto com sua postagens. Um toque divino a trouxe de volta à vida. Abraço.
ResponderExcluirSó quem tem amor a esses bichinhos sabem do que eles são capazes. Muito linda essa histórinha.
ResponderExcluirCida Peres
Existem mais mistérios entre os céus e a terra, que imagina nossa vã filosofia, não é frase minha, mas é uma pura verdade. Belíssimo conto, meu amigo, como sempre se espera de talento como o teu, uma poesia em longos versos, uma história triste e bela ao mesmo tempo. Aplausos de pé....
ResponderExcluirUm texto lindo Márcio, permeado de amor por nossos melhores amigos "os animais". Beijokas
ResponderExcluirLindo buriti. Obrigado.
ResponderExcluirMarco aurelio kunz silva
A maioria dos seus textos, eu leio mais de uma vez. São cheios de encanto e poesia! Parabéns, Márcio!
ResponderExcluirMaria Mineira
Boa Tarde Márcio! Li alguns de seus textos e é cada um mais lindo que o outro! Parabéns querido!
ResponderExcluirNaná Santos
Coisa mais linda esta história! Eles são nossos anjos da guarda, aqui ou lá...
ResponderExcluirAmei!
Costumo dizer que os animais são uma espécie diferente de anjos que nos resgatam de uma série de enfermidades espirituais e físicas. Com eles fazemos algumas das melhores terapias! São os amigos mais fiéis e verdadeiros! Comunicam-se da maneira mais bela e profunda sem dizer uma palavra (isso é a maior prova do quanto é simples viver em paz e compartilhar alegria e amor, respeito, ternura, lealdade...). Talvez existam exatamente para serem as lições mais preciosas para nós, os racionais!
ResponderExcluirMais um belíssimo e sensível texto! Sempre encantado, meu coração o aplaude! Grande abraço.
Bom dia Márcio, belo e emociona... parabéns!!
ResponderExcluirAbraços, Van.
Ysolda Cabral marcou com +1
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ResponderExcluirLIANA TINS marcou com +1
ResponderExcluirTeuvo Vehkalahti marcou com +1
ResponderExcluirJane Sorgetz marcou com +1
ResponderExcluirJosé Carlos Bortoloti marcou com +1
ResponderExcluirE dos mistérios insondáveis desta vida e das outras, quem pode nos garantir? E um conto bonito desse pra deixar a gente com vontade de saber mais. Por enquanto, valeu a manhã de sol regada a essa beleza inteira. Lindo, poeta Marcio.
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