Esta historinha é da vovó Isaura Alves de Almeida, a Mainha, com carinho.
VOOU nas asas da ternura do coração de Mainha, pousou no aconchego doutras vovós para se banhar na doçura de Mimim, a menina Yasmim, que agora planta a historinha no coração de Luarzinha, sua priminha menor:
VOOU nas asas da ternura do coração de Mainha, pousou no aconchego doutras vovós para se banhar na doçura de Mimim, a menina Yasmim, que agora planta a historinha no coração de Luarzinha, sua priminha menor:
“Ou
Luarzinha! Feche os olhos pra você ver... Mainha está sentada à varanda,
assistindo ao nascer do dia. No quintal, há um pezão de jacarandá; e, nele, uma
orquídea lilás, onde um casal de canarinhos fez ninho”.
Luarzinha entrega,
agora, os sentidos e o pensamento a Mimim. E Mimim sabe cadenciar a historinha pro
seu coração:
“O dia está claro de vez. Mainha tem
o coração no casal de canarinhos, que dão pulinhos pelo quintal, pra lá e pra
cá, caçando sementinhas. Mas, num instante, eles pegam voo ó, vruuup, pra
voltar só de tardezinha”.
“É assim, Luarzinha: há meses, Mainha
vê o casalzinho voar e voltar. Ela adora vê-los dançar, tão bonitinhos, na
beirinha da orquídea, antes de descerem ao ninho”.
“Mainha sabe tudo, deles. O que
ela chama de machinho é o que estufa o peito e canta... É o que faz bonito. E todo
dia é assim. Mainha sabe. O que ela não sabe é que essa é a última tardezinha que
ela passa com os canarinhos”.
“Por quê? Porque alguma coisa lhe
aperta o peito... Causa que um gavião, que acaba de pousar no jacarandá, crava
o olhar de vidro nos canarinhos. Ela não gosta do gavião. Gavião pega e come os
menorzinhos todos...”.
“Por isso, Mainha está falando
sozinha que queria, agora, uma espingarda. Se tivesse, ela iria espantar o
malvado do gavião. E o gavião está ó, cabeça baixa, olho de vidro no canarinho,
o machinho, que rodopia na beirinha da orquídea”.
“Todo dia é assim. Mainha sabe. O
machinho deixa a mulherzinha no ninho, bem quentinha, salta à beirinha da
orquídea, olha em volta, gorjeia bonitinho demais e ó, vruup, voa”.
“Aí, que ele voa, o gavião manhoso
salta de galho em galho até o ninho. Mainha vive o perigo e nem vê que chora: é
que o gavião está levando a canarinha no bico encurvado. De tanto dó, Mainha se
ergue no banco e diz, quase sem voz: ― Faça isso não, gavião!”. Mas, aí...
“Aí que Mainha chora mais: é que,
não demora, o machinho chega com uma frutinha no bico. Ele chega, desce ao
ninho, volta à pétala da orquídea, olha pros lados, deixa a frutinha cair e ó, vruuup,
voa pra nunca mais ali. ― Tadinho, meu Deus, diz Mainha, ele foi buscar a comida
dela...”.
“Mainha não enxerga mais nada.
Seus olhos estão afogados nas lágrimas. Nem ouviu o canarinho gorjear, como ele
sempre fez, ao sair do ninho para um passeio. ― E o ninho, Mainha diz, vazio de
amor, caiu no chão. Ficou pr’ali, pr’acolá, tocado pelo vento. Daí, um dia, eu não
vi ele mais”.