O banco dele é o que tem à frente o canteiro de miosótis e a fonte luminosa. Vai ali para ler livro ― e cochilar, e até sonhar. Aí, um dia, um menino de uns doze anos saltou-se ao seu lado.
― Quer conversar? ― o menino disse, de cara.
― Estranho, isto ― o velho foi pragmático. E disse consigo: “Eu, hein? Nesse mundo de hoje...”
― Estranho, não ― o menino insistiu. ― Só saber do senhor, em menino. O senhor namorou?
― Se namorei?!
Um menino com esse assunto, ainda mais à primeira vista, foge aos padrões. Mas pela paz que escapulia do verde sobressaído dos olhos dele, o velho deu linha à pipa da sua indiscrição:
― É, namorei. Escondido. Tinha a sua idade. Como você se chama? Toím? Ué! Eu, Antônio. Mas em menino, Toím também. A sua casa tem quintal, Toím? Ah, é? No meu quintal, também três pés de manga. Que mais? Ah, a minha mãe também não iria ficar sem jabuticaba! Que mais? Goiabas? Vermelhas?! Olha só! O meu quintal, Toím, era o seu sem tirar nem pôr. O meu namoro? Ah, está bem, eu te conto. Bom, era a Verinha... Olhinhos de jabuticaba. O cabelo, preto também. Encaracolado. O meu pé de goiaba, quase ao muro; o dela, também. A gente subia neles e trocava olhares entre as folhas. Um dia, ela sussurrou uma coisa, e eu fui pelo galho que nem um mico; mas que ia tocar os dedinhos dela, o galho se quebrou e eu ganhei essa marca aqui, ó. Ah, você também tem uma cicatriz! Hã? Nem me lembra, Toím! Foi numa triste manhã. Um caminhãozão levou Verinha e seus pais, de mudança. Daí eu subia ao pé de goiaba pra chorar. Acredita? Parece que cortaram o meu mundo e só ficou o meu irmão pé de goiaba. Um dia, que enxuguei os olhos com a gola da camisa, eu a vi. Mas foi o vultinho dela e, aí Toím, ó, nunca mais. Toím! Toím! Ei, Toím! Cadê...
Toím sumiu. Evaporou-se? O velho não mais o viu. Aliás, ele acha até que Toím foi só um vultinho; que nem o de Verinha. Um vultinho do seu eu, menino; do seu eu, Toím, e só.
" A gente subia neles e trocava olhares entre as folhas." Coisa boa é ler quem nos dá essa chance: a de construir fielmente as imagens. Essa frase me deu esse momento bonito. Os olhos escorregam na delicadeza, na ternura desse relato de Toím e se deixam levar por suas lembranças... Tão íntimas, tão alegres, tão doces. Muito bacana, Marcio!
ResponderExcluirNossa Marcio, que coisa mais lindaaaa. nossa, o final, que isso, que lindoooo. Beijo, obrigada.
ResponderExcluirEllen.
Marcio, você é especial com as palavras. Logo imaginei que ele estava a recordar. Quanta sensibilidade na elaboração do texto! Belo!
ResponderExcluirQue beleza de presença! Obrigado, fotógrafa e poetisa Lene!
ExcluirQue lindo Marcio. Diálogo sincero torna estória em história, eu acho. Meu carinho sempre. Beijo
ResponderExcluirParticipação marcante. Graças, Wanda!
ExcluirVocê é mágico com as palavras, Márcio! Muitos parabéns, viu? Sou sua fã de carteirinha.
ResponderExcluirE como é que me sinto, tento com fã de carteirinha essa excelente poetisa Ysolda? Graças!
ExcluirSimples e mui belo texto! Parabenizo-te, Marcio! Beijo.
ResponderExcluirJorge Lemos
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Helder Gonçalves
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Olá Márcio,
ResponderExcluirInteressante que durante a leitura fiquei imaginando que se tratava de um diálogo entre Antônio e seu 'eu' menino (Toím).
Lindeza de conto e de texto.
Você nos presenteia com deliciosas leituras.
Ótimo final de semana.
Abraço.
Importantíssima presença. Obrigado, Vera Lúcia!
ExcluirBom dia Márcio linda inspiração! Encantado e bem-vindo encontro. Um ótimo fim de semana! Abraços, Van.
ResponderExcluirAgradabilíssima a presença dessa "rainha da sensibilidade", poetisa Van. Obrigado, Van!
ExcluirNaná Santos
ResponderExcluirSimples e mui belo texto! Parabenizo-te, Marcio! Beijo.
Belo e muito poético, como sempre, querido amigo! Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirGrato pela leitura e comentário, Rosangela. Sua participação é muito importante para mim.
ExcluirRosangela Jacinto
ResponderExcluirMuito lindo seu texto, Márcio. Obrigada!
Adrianna Ressurreição
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Erica Alcantara
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Ana Helena Prata
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Oi Márcio, que beleza de texto! Li a sua Prosinha no Recanto das Letras, e agora quero repassar o seu blog de leituras agradáveis. Beijo, Daniele Lopes.
ResponderExcluirQue coisa mais linda,Márcio!Te ler é sempre uma viagem linda! abraços, tuuuudo de bom,chica
ResponderExcluirObrigado, Chica! Ótimo receber sua visita e comentário! Abraço!
ExcluirMarilene Duarte
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Estoy de tu blog mediante la indicación de Stell. Este texto primero me cautivó, porque usted tiene una manera muy única de la escritura. Me gustó mucho. Beso, Alejandra García.
ResponderExcluirBoa noite, grande encantador de palavras e de corações! Que belas reminiscências transitam pela nossa alma ao ler sua deliciosa e tão sensível prosa poética! Sabe que é bem assim mesmo? Estou certa de que não só na idade senil, mas bem antes dela, os Toins e Mariazinhas nos visitam, à sombra das adormecências, teimando em despertar nossos olhos interiores em recantos supostamente abandonados. Amei! Beijo na alma.
ResponderExcluirLIANATINS POETISA
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Mariana Alejandra
ResponderExcluirmarcou com +1 AO PÉ DE GOIABA