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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Arzinho de coisa boa

   A festa, o quintal de sabores e cheiros, pássaros, roseiras e pés de figo no terreiro, e o coração dele a se tingir ao manacá, por tê-la visto à varanda.
   Viu-a, e um desfio de saudade se lhe rompeu: os olhos da alma correram o lugarejo cortado por riozinho, onde nasceram. No entanto, o afã dos seus olhos por ela cortava o filme da saudade.
   O tempo de criança, ele e ela e os outros a brincar no riozinho, foi-se mirrando e, de pronto, mirradinho. É que num pouco que o olhar dela topou o dele, um fiozinho de ímã se teceu do seu coração até ela.
      Embora apagadinha, a lembrança, assim como a esperança, quando vê, pega vupt! Aí que’stá: uma passagem, a que ele queria morta, lhe saltou. Nela, ela se joga no riozinho e bate braços, à espera do mocinho. Que se quer cair no rio, fazer bonito, outro o faz e salva a mocinha. Disse, consigo: “Ô diacho!”
      Largadas de mão as minúcias de saudade, o jeito foi dar jeito na convulsão das pernas, enquanto se lhe troteava o coração. Este batia “Vá para ela, !”, mas as pernas tremiam. Então, respirou fundo e optou por quem manda é o coração.
      Olhos nos olhos, ela quase não teve força para destampar um “Oi”. Ele se fez forte e arrastou o “Como vai você, flor”. Aí, que ia descer às suas mãos o beijo, o velhinho dela, como a saltar no riozinho da emoção e a mocinha salvar, se pôs entre eles: “Velho, vá pra lá!” ― disse, empurrando-o.
     Ninguém se deu pela desavença  passional  dos velhinhos. Mas a vida, em ternura para com eles, vibrou pela vovozinha, que partia corações, a abanar com seu leque à furta-cor o que lhe saía do ego massageado: o arzinho de coisa boa.



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Benquerenças

Obstinada, não aluia o pé, turrona, dadora de ombros. “É isprito ruim”, o rapaz João dizia. “Isprito ruim garra a gente, encrava-se na gente que nem bicho-do-pé. A Izinha, ele a encasquetou na estampa dum sujeito, e isso lhe seca o jeito de flor”.
― Izinha ― o rapaz João insistia ― você é um brinco de moça, Izinha...
Ela ― Não, eu quero é ele.
João ― Chegô circo. Trapézio, corda bamba, onça-pintada, inlefante, menino das rosas...
          Ela ― Não, eu quero é ele.
        A  vovó  entrou  com  um  olho aberto,  outro  arregalado:  “João,  cê tá amoitando o quê, por trás desse desinquieto pela Izinha?”
       João jurou que jamais. Que isso! Não queria, era ver uma perla de moça, que nem a Izinha, perder o jeito de pétala que o beija-flor abana. Jurou não ter um arzinho de outra cor na benquerença de amizade.
        João ― Não qué passear de charrete? Eu mando aveludar o banco...
        Ela ― Não, eu quero é ele.
       João  ― Mas Izinha, ele ora é da Dora, ora é da Flora, da Aninha, e diinhas atrás, da Magnólia.  Que diacho, Izinha!
        Ela ― Não, eu quero é ele.
       Passou-se o tempo das noivas, o tempo disso e de tudo, e o tempo de moça da Izinha. Um dia, fogueira de Santantõe, quem ela queria, já erado, grisalho, prendeu na sua trança uma flor de orvalho. Aí a mão dela, no zás do bote da víbora, prendeu a mão dele, e ali os abençoou o padre da vila.
       Dia claro, um birita à caça de poesia viu Seu João, sem destino algum, caído num banco dos fundos da jardineira, de rosto nas mãos, caído no choro por Izinha ter-se caído nos braços do outro.