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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Na velha casa abandonada

ELE passava o riozinho para desenhar a natureza, do lado em que ela morava; e ela, cabelo à maria-chiquinha, se punha a saltar às borboletas como em saltos de balé.
     Da troca de “Oi” pintava silêncio, quebrado pela conversa costumeira. Mas um dia ela quebrou incomumente esse silêncio: “Você já sentiu saudade? Eu vou para a cidade grande, estudar. Desenha a cidade grande?”. E ele: “Nunca senti saudade nem desenho cidade grande, pois não imagino cidade grande”.
        Nesse dia, entraram de mãos dadas  na velha casa abandonada de uma vereda. Amaram a casa. Limparam-na com galhos folhados, e ela posou de vestido estampado para os lápis dele, que se sangraram nas cores da boniteza dela.
          Viram-se outras vezes. Aliás, a última foi antes de muitos anos em que ele passou a viver o desejo de pintar o que sentia por ela: a saudade. Quando a saudade saiu do verde para o roxo, ele desembarcou na cidade grande.
          Dias e dias sem vê-la, sentou-se  num parque  para refletir; e que abriu os olhos, uma figura de mulher, a se mesclar aos raios do sol, estava logo à sua frente, à beira de um lago. Seria ela, por não existir coincidências no amor?
          Não. Não era. Mas  que  uma mão lhe pousou no ombro, aí sim, a intuição lhe  disse que  era ela; e era. Daí, frente a frente, e porque o amor não dissipa as feições, ele reconheceu a boniteza que dela fluía.
           Deu ele um  passo  para o  beijo;  ela  um  passo para  trás.  Disse  ela que há dias o  reconhecera  numa rua, que o seguira, e que tinha  algo a lhe dizer: que se ia casar... Que, não soube ele o quê, mas que o amava, o que ele não ouviu.
          Agora era ele a se ajustar  ao desencanto,  num vagão de segunda clas- se. Na sexta estação, desceria para a vida de refúgio nos campos e na velha casa abandonada. A propósito, esta seria a sua vida, não fosse ela gritar o seu nome, ao corredor do vagão, e correr para o beijo e à vida a dois.
          Eles  amam a velha casa  abandonada.  Sentem-se seus donos.   Limpa- ram-na ao figurino, e ela os abriga como cúmplice do primeiro amor que eles fizeram quando criança.




25 comentários:

  1. Uau!!! Que linda história e que bom poder ler você Márcio. Não há nada que separa um amor de verdade. Parabéns meu amigo!! Carinho da Cida.

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  2. José Edward Guedes
    Marcou sua postagem com +1

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  3. Hola querido Marcio! Esta es una hermosa historia. Beso Stell.

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  4. Mágico! Amei! Suas histórias são quase etéreas entre o lírico e o real.

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  5. Nada como o despertar do amor.
    Cadinho RoCo

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  6. Celêdian Assis - Para amores eternos, até o destino conspira para que o reencontro seja inevitável. Ótimo texto. Abraços

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  7. Regina Oliveira - Esse escritor e demais !!!!

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  8. Um texto onde o verso se veste de prosa e a prosa deixa transparecer em suas linhas o lirismo do poeta. Aplausos!

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  9. Que pequeno GRANDE texto amigo Márcio! Quanta beleza! Quanta riqueza!...
    Abraços.

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  10. Lindo texto! Adorei.
    Obrigada pela visita,beijinhos.

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  11. Lindo demais, Márcio... a casa abandonada ficou no coração, e eles, ainda moram nela. maravilhoso!
    Espero que você tenha um belo dia de domingo.

    Abraços.

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  12. Maria Lopes de Andrade
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  13. jose vitor Lemes
    Marcou sua postagem com +1

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  14. QUE BELO CONTO! Com final feliz, como eu gosto!

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  15. Que lindo! Amei! *_*
    Lia Barone

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  16. Márcio, sou romântica incorrigível, mas esse é um dos mais lindos que já escreveu. Parabéns!

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  17. Demorei um pouquinho para chegar porque estive fora, mas não perderia o prazer que suas postagens me proporcionam. Seu conto é poético e lindo. Sua forma de narrar é mágica, tanto quanto o amor que descreveu. Abraço.

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  18. Ceiça Lima
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  19. Maria Lopes de Andrade
    marcou com +1

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  20. Belíssima e emocionante história, querido encantador de palavras, De um lirismo ímpar! E a poesia continua sendo sua aliada forte, escrava de sua magia, dando um toque sempre tão especial às suas prosas, Aplausos sempre! Bjs na alma,

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  21. Sempre prazerosa, emocionante e irresistível cada leitura vinda de suas mãos
    que tão bem reproduzem sua alma de artista!
    Abraço!
    Marilene Amaral Branquinho

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  22. Vanice Zimerman Ferreira compartilhou sua foto.
    Parabéns Márcio!!

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  23. Márcio Querido
    Como você coloriu as palavras! De colorido terno e suave como é seu texto de amor! A casa não estava abandonada, ela abrigava em cada canto seu o mais puro sentimento e o mais sublime deles, que é o amor. Parabéns pela sensibilidade em escrever a dor da saudade pictoricamente. Seu texto é por demais bonito!

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  24. Se fosse apenas um amor a mais vá lá... Não era. Era um amor de lápis de cor e saudade, e reencontro e beleza a cada estação sem fim. Nota 10!

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  25. muito bom.....gosto muito de boas historias bem contadas.....lhe convido a fazer parte do meu blog

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