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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Outros passarinhos do bosque

Esta historinha vai pra minha amiguinha Eduarda Amaral Campos Alves, a Duda, e para sua madrinha Mariana, a Naninha.


Num dia alegre, dia do casamento da raposa, em que o sol brincava de diamantizar a chuvinha tão fina quanto cabelo de milho, a menina Duda chegou, de mão com sua madrinha, à casinha de um vozinho. Elas foram visita-lo e Duda levou-lhe uma mudinha de gerânio. “É florzinha do bosque”, disse Duda.
      O vozinho cheirou a flor, puxou Duda a si, e, enlaçando-a com o braço frágil que nem perna de passarinho falou “Oh, menina linda! Esta florzinha é do bosque? Ah, lembrou-me uma historinha de bosque... De crianças, passarinhos e bosque. Vou-te contar essa historinha”.
    O velhinho  a contou ali mesmo, na varanda da casinha. Ele contava e,  que nem a Duda, tinha os  olhinhos  dormidos numa roseira:
      – Havia  um bosque do lado  da casa de  um menino. O bosque  era cheinho de frutas, flores  e passarinhos. E ali, mexendo numa flor e outra, numa plantinha e outra, tal os passarinhos a mexer numa fruta e outra, havia uma menina.
    Um dia, a menina pegou o menino olhando para ela, sobre o muro. Pensa que ela saiu correndo a gritar “mãê?”. Que nada! Ela fez foi acenar ao menino espião, convidando-o para brincar.
   O menino saltou ao muro para um berçário de flores, plantinhas e passarinhos. Eles se apresentaram como Júlia e Guim, e à mesma hora virou uma festa, de brincadeiras. A primeira coisa foi o balanço; e, com os dias, Guim embalava o balançar de Júlia só pra ver o cabelo dela virar um leque no ar.
    Ih! Brincaram muito. Guim fez-lhe bambolê de cipó, bilboquê de latinha, e eles formaram mudinhas de gerânio e outras flores. Enquanto passaram um tempo no bosque, protegiam os ninhos e aprenderam o canto de alguns pássaros. Aliás, eles se fizeram noutros passarinhos do bosque. Mas isso até o dia em que Guim chegou da escola e cadê Júlia? Júlia se mudou dali.
    Nessa parte, o silêncio, que nem o que se faz ao ver-se quebrar um ovinho de passarinho, tomou conta deles. O braço frágil do vozinho descansava sobre os ombros da Duda, e seus olhos dormiam na roseira. Os olhos de Duda também dormiam na roseira, e ela segurava a leve mão do velhinho.
    Ficaram assim até que Duda quebrou o silêncio:
    – Ele não viu mais ela?
    – Sim, Duda, ele  a viu. Guim foi  herói, só vendo. Mesmo com onze anos, ele enfrentou as ruas da cidade até o dia em que Júlia o gritou, atrás das grades da sua casa...
    – E eles se viram mais?
    – Sim, Duda, eles se viram mais... Aliás, eles se veem sempre.
    – É? E cadê eles?
    – Bom,  vamos  fazer uma  coisa:  entre com  sua  madrinha  até  o quarto e dê, também, o meu segundo beijo de hoje na vozinha Júlia... Ela está descansando. Vai. Vai lá!
    Duda  saiu  devagar de  sob o  braço frágil  do  vozinho e, antes de entrar na sala, olhou para trás e respondeu ao sorriso do Guim.






14 comentários:

  1. " tinha os olhinhos dormidos numa roseira " que bela imagem Márcio. Parabéns. Como sempre seus contos me encantam. Meu carinho. Wanda

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  2. Não tem nada mais belo que o sorriso de uma criança em meio às flores, pássaros e a experiências adquiridas com o passar dos tempos. Muito linda essa mistura que você faz, seres e natureza. Obrigada pela oportunidade de poder ler suas historinhas. Carinho da Cida.

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  3. Você sabe dar vida às palavras quando vai recolhendo e ajuntando uma a uma para formar um conto.Parabéns, Márcio!

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  4. Uma linda história de amor disfarçada de conto de fadas!

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  5. Linda e encantadora história! Aplausos, sempre, meu amigo Marcio!

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  6. Olá!!!, Deus te abençoe, tenha uma semana encantadora, amigo estou entrando pela primeira vez no seu blog mais já estou amando as suas belas historias, o seu blog é maravilhoso continue assim, S-U-C-E-S-S-O
    Já estou te seguindo, aguardo a retribuição.
    Canal de youtube: http://www.youtube.com/NekitaReis
    Fanpage: https://www.facebook.com/pages/Batom-Vermelho/490453494347852?ref=ts&fref=ts
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

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  7. Terno e encantador seu conto. Até vi o avozinho frágil fitando as flores, apoiando-se no ombro da ansiosa criança. Um amor da infância que desconhece o tempo e se eterniza. Abraço.

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  8. Podemos até sentir o frescor da chuva de cor diamante, ao ler mais uma das suas criações literárias.
    O amor platônico entre duas crianças escrito com mestria, sendo precursor de um amor mais profundo num futuro, tavez, até longínquo.
    Linda imagem... com os dias, Guim embalava o balançar de Júlia só para ver o cabelo dela virar leque no ar.
    Meus parabéns não só para o autor, mas, sobretudo, para Mariana e Duda que têm papel importante na singela história de amor.

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  9. Olha só que beleza, beleza, beleza. Tenho de passar o dia no seu blog, Marcio. Beijo, lindo.


    Annalucia O. Rori

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  10. Uma beleza de sensibilidade num caso de amor. Que bom vir aqui, Márcio.Obrigada!


    Anna A. Rodrigues

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  11. Vidas marcadas para seguirem juntas. Nada muda. Lindo, Márcio. Menina e madrinha certamente gostaram muito da historinha. Beijo, lindo.


    Pabline Luísa

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  12. Um caso de amor dos que se pode dizer que um nasceu para o outro. E a busca do menino prova isso. Parabéns, Marcio!


    Wanda.

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  13. Emocionante! uma história de amor que faz chorar. 10, Márcio! Beijo, lindo.

    Alessandra Keppi

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