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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nina, Vô Zim e o ciúme da Vovó

 Isso a vovó contando: 
― Chamei o Zim, pra ver se ele tinha macetado a taturana do pé de figo, que o figo já pedia pra virar doce, e eu não chego ao pé de nada com taturana nele, mas é nunca; então chamei o Zim, e cadê o moleque do Zim?
  ― Uai,  Vô Zim se some, assim? ― o moço quis saber, ávido pela histori-nha.
  ― É assim: se os óclos não brincam de esconder com ele, ele está ao quintal, imitando passarinhos, colhendo florzinha, ou lendo livro na sua cadeira de vai e vem. Mas nesse dia estava ao quintal, miando e estalando os dedos pr’uma gata.
   ― Ai, ai, ai! Gata, gata, ou gata moça? ― o moço disse, rindo.
   ― Gata bicho, menino. Já viu gata gente? Hã!
    ― Tá. Mas, e aí, vovó?
   ― Aí  que meu  sossego ó...  Babau!   Não há de ver que a gata veio e deitou a carinha metade escura, metade amarela na mão dele? Ara!
    ― Vovó... Esse ara não quis dizer ciúme?
    ― Doido, menino? Eu, ciúme do Zim com uma gata?
    ― Tá. Mas, e aí, o que se deu?
   ― Deu que aonde ia o  Zim,  a gata ia. Ele a chamou de Nina. Arranjou escova, pente, e até espêio pra ela... Ara! Mas meu xampu não; amoitei bem amoitado.
    ― E  daí?
   Uai, com diinhas Zim batia no ombro, Nina saltava no seu ombro. Erguia o pé, ela se enganchava no seu pé. Quando eu vi, ele já lia pra ela. E mais: arrumou o quartinho dos fundos pra ela. Mas eu ó... Nem aí. Ara! 
     ― Vovó, vovó...
    ― Mais diinhas, e pegou a passear  com ela de jipe. Dizia: “Uma voltinha, Nina?”. E ela, derretida: “Miaaau!”. Ara! Eu vivia dizendo que já não tinha carta pra guiar, e que a polícia ia prender tudo. E isso era melhor que estar aqui, no hospital...
     ― E como foi o  acidente, vovó? 
   ― O jipe tombou... Hoje, cedinho. Eu estava na casa de nossa filha, quando meu netinho Pedrinho disse: “Mãeê! Vovóó! É a Nina saltando na porta! Olha aqui!”.
     (Pausa)
    ― Chora não, vovó. Chora não, que eu também choro ― disse o moço, ao vê-la enxugar o cantinho dos olhos.
    ― Tá. Então eu espiei, e era mesmo a Nina. Nem vi que perguntei: “Nina, cadê o Zim, Nina?”. Ela entendeu e correu rumo à estradinha de casa.
    Nós a seguimos, e lá estava o jipe, tombado no mato, e Zim caído acolá, desacordado.
     (Pausa)
    ― Chora não, vovó. Chora não, que eu... Ih, vovó! Vô Zim está vindo ao corredor, e andando! Ih! Nina é aquela gata enganchada no ombro dele, vovó?!
     ― Sim, é sim!  ― ela foi ao  encontro dele e  o abraçou com  Nina e tudo.
   Daí, perguntado sobre a gata, o médico disse: “Agora é que sei desta bonita menina, salvadora de vida... ― correu a mão na Nina. ― Ah! Bem me pareceu que algo se mexia aos pés de Vô  Zim, debaixo do lençol...”.
     Bom, diz a boa língua de Pedrinho que, hoje, semana depois da coisa toda, a vovó destrancou seus xampus a Nina. E mais: ela banhou Nina; mas olha só: Nina sequinha, penteada e cheirosa, vazou dela pra ir saltar ao ombro de Vô Zim. Ara!


8 comentários:

  1. Encantadora sua história, como sempre, Márcio. Estive ausente, viajando, mas eis-me de volta a distrair-me em sua página. abraços

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  2. Sempre me encanto com suas histórias. Como não tratar bem a gatinha, depois disso??? O ciúme acabou (rss). Abraço.

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  3. Lindo demais, Marcio. Um encanto estar aqui... é a segunda Nina gata que eu conheço... rsrsrs...

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  4. oi Márcio, estou aqui rs, lendo vc,e me encantando mais uma vez com sua sensibilidade...
    Beijos
    Izabel Christina

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  5. Meu amigo, somente quem tem coração puro feito de criança, pode ser tão fiel e perfeito nos contos mais para o lado infantil, eu diria esplêndido, um talento acimo do normal. Um abração, tudo de bom

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  6. Muito lindo! Seus contos encantam pela ternura e nos levam de volta à infância. Parabéns!

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  7. Como é que resiste a um bichinho amoroso e esperto igual a essa Nina!? Adorei!

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  8. A gatinha Nina conquistou a todos, principalmente a Võ Zim.
    A, nós, leitores, pareceu-nos intenção do autor mostrar a importância de um animalzinho na vida de pesoa idosa.
    Vovó soube compreender isso a tempo. Que bom! Resultado: todos felizes com o restabelecimento do Vô e agradecidos à Nina por sua dedicação ao personagem principal da história.
    Márcio é tudo muito encantador, e o que me chama mais a atenção no que escreve é o reconhecimento da importãncia do idoso no nosso contexto familiar e do amor que devemos ter para com a natureza e os animais.
    Parabéns, meu querido! Que Deus continue a iluminá-lo!

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