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terça-feira, 4 de junho de 2013

Conta a minha historinha?

Eram seis. O pai, a mãe, Dinho, irmãozinho mais velho que Juquita, o cãozinho Cipó e Zeca, o papagaio.
Eram felizes até que um dia um vento nunca sentido, trovões nunca ouvidos, dos de balançar prateleira, e um raio, uma chicotada de raio que caiu sobre a rocinha aonde o pai trabalhava.
Daí eram cinco, e seu mundo foi ficando cinzento. E quase sem cor de tudo ficou quando Dinho se levantou antes do galo e sumiu das suas vidas.
    Daí eram quatro, e Juquita escreveu de vermelho na sua historinha: Não há nada mais amargo quanto me foi sentir os soluços da minha mãe. Nem que o Céu e as estrelas e os passarinhos deixam de existir, isso não é mais triste que foi ver minha mãe em pranto.
    Um dia, Juquita não foi à escolinha. Deixou-se ficar com Cipó e Zeca à jabuticabeira. Ficou a riscar o chão com graveto e a olhar à mãe de rabo de olho. E quando seus olhares se encontraram, ela o chamou: “Vem cá, filhinho!”
    Minha mãe recomeçou a nossa vida, ele escreveu em vermelho. Pegou as minhas mãos, olhou-me nos olhos, disse que, a partir daquele momento, Santa Terezinha estaria com a gente. E aí o mundo foi pegando suas cores, e o trilho torto da nossa vida se endireitando.
    Sim, os pássaros, aos bandos, voltaram a revoar sobre o quintal, Cipó a saltar nas pernas de Juquita, chamando-o para brincar, e Zeca tagarelando como nunca. E foi aí que, num quase amanhecer, Juquita dormindo aos pés da mãe, ela o acordou: “Juquita! Juquita! Que é que o Cipó tanto late?”
    Seria o quê, um pobre tamanduá caçando formigas? Ou um guará? Ou um cãozinho abandonado, faminto? Juquita enfiou os pés nas chinelas, esfregou os olhos e saiu. Abriu a porta bem devagar e se agachou para melhor visualizar o que era. E, para lhe soltar lágrimas no rosto, a sua frente estava o seu irmãozinho Dinho.
    Mãe sente as coisas, e a sua mãe já estava no meio da saleta, chorando pela emoção da volta do filho. Era o calor do seu filho no seu abraço! Mas não foi só isso: Juquita viu, ali, uma mulher de véu cinza e vestido de muitos panos em amarelo-creme ao lado do seu pai. Eles sorriram para ele e sumiram.
    Juquita desconfia, e ainda não o disse à mãe, que a linda mulher com seu pai, ao abraço da sua mãe no Dinho, seja Santa Teresinha. E destacou: "E a gente é feliz de novo."


15 comentários:

  1. Uma história triste com final feliz, ainda bem...terminei de ler com lágrimas. Prazer em poder ler você. Carinho da Cida.

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  2. Esse seu jeito de narrar é especial, Marcio. Eu me delicio com seus contos. A linguagem, própria do "interiorzão", nos faz penetrar naquela casa e conviver com os membros da família. O trilho torto da vida voltou a se endireitar, com a ajuda de Santa Terezinha. Abraços!

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  3. Parabéns pela inspiração e criatividade! Abraço, Inês

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  4. Marcio, Boa noite! Como voce consegue escrever tão belo, tão real, tão humano, tão, tão, assim, com esse jeitinho todo especial, que nos leva tão carinhosa e encantadoramente, para dentro das narrativas envolventes por demaisss..Meu forte abraço e uma linda noite, viu?

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  5. Árvores com nome de gente... Subir nas árvores só com a ''força do corpo que boia no poço'''... Talento, sensibilidade, criatividade e respeito pela Natureza que é a própria Vida! Coisa mais bonita, Márcio! Parabéns!

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  6. "Minha mãe me recomeçou"... Que lindo! Uma história com uma sensibilidade que toca no coração e traz lágrimas aos olhos. Você consegue levar o leitor a sentir o mesmo que os personagens. Parabéns! Adoro suas histórias. Abraços

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  7. Lindo, Marcio, como sempre... acho que ele compreendeu que ir para longe não significa desgrudar-nos das ausências, pois nós as carregaremos sempre conosco; é preciso buscar dentro das ausências uma presença que ainda permanece, a aprender a conviver com esta presença de uma maneira diferente do que era antes.

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  8. Sempre lúdicos e tocantes os teus textos! Obrigada por compartilhar! Parabéns, abraço carinhoso!

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  9. Lendo, relendo e nunca me canso de vir aqui nesse mundo encantando dos contos. Parabéns!

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  10. Emoção total. Lindo! Beijo, Marcio Buriti.


    Adriana Mendes

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  11. Chorar por um texto só se ele for tão bonito e emocionante como a historinha do menino Juquita.
    Beijo, lindo escritor!

    Joelma Christina.

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  12. Uma das melhores emoções de leitura que já passei. Lindo!
    Beeeeijo, Marcio!


    Mariana Andrade

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  13. Uma bela historinha, um enredo e tanto, com a presença de Santa Terezinha. Bravo, Márcio!


    Mário Rossi

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  14. Nossa, que lindo! Chorei,

    Yara Mira.

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