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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mainha Isaura e os canarinhos da orquídea

Esta historinha é da vovó Isaura Alves de Almeida, a Mainha, com carinho.



VOOU nas asas da ternura do coração de Mainha, pousou no aconchego doutras vovós para se banhar na doçura de Mimim, a menina Yasmim, que agora planta a historinha no coração de Luarzinha, sua priminha menor:
      “Ou Luarzinha! Feche os olhos pra você ver... Mainha está sentada à varanda, assistindo ao nascer do dia. No quintal, há um pezão de jacarandá; e, nele, uma orquídea lilás, onde um casal de canarinhos fez ninho”.
       Luarzinha entrega, agora, os sentidos e o pensamento a Mimim. E Mimim sabe cadenciar a historinha pro seu coração:
“O dia está claro de vez. Mainha tem o coração no casal de canarinhos, que dão pulinhos pelo quintal, pra lá e pra cá, caçando sementinhas. Mas, num instante, eles pegam voo ó, vruuup, pra voltar só de tardezinha”.
“É assim, Luarzinha: há meses, Mainha vê o casalzinho voar e voltar. Ela adora vê-los dançar, tão bonitinhos, na beirinha da orquídea, antes de descerem ao ninho”.
“Mainha sabe tudo, deles. O que ela chama de machinho é o que estufa o peito e canta... É o que faz bonito. E todo dia é assim. Mainha sabe. O que ela não sabe é que essa é a última tardezinha que ela passa com os canarinhos”.
“Por quê? Porque alguma coisa lhe aperta o peito... Causa que um gavião, que acaba de pousar no jacarandá, crava o olhar de vidro nos canarinhos. Ela não gosta do gavião. Gavião pega e come os menorzinhos todos...”.
“Por isso, Mainha está falando sozinha que queria, agora, uma espingarda. Se tivesse, ela iria espantar o malvado do gavião. E o gavião está ó, cabeça baixa, olho de vidro no canarinho, o machinho, que rodopia na beirinha da orquídea”.
“Todo dia é assim. Mainha sabe. O machinho deixa a mulherzinha no ninho, bem quentinha, salta à beirinha da orquídea, olha em volta, gorjeia bonitinho demais e ó, vruup, voa”.
“Aí, que ele voa, o gavião manhoso salta de galho em galho até o ninho. Mainha vive o perigo e nem vê que chora: é que o gavião está levando a canarinha no bico encurvado. De tanto dó, Mainha se ergue no banco e diz, quase sem voz: ― Faça isso não, gavião!”. Mas, aí...
“Aí que Mainha chora mais: é que, não demora, o machinho chega com uma frutinha no bico. Ele chega, desce ao ninho, volta à pétala da orquídea, olha pros lados, deixa a frutinha cair e ó, vruuup, voa pra nunca mais ali. ― Tadinho, meu Deus, diz Mainha, ele foi buscar a comida dela...”.
“Mainha não enxerga mais nada. Seus olhos estão afogados nas lágrimas. Nem ouviu o canarinho gorjear, como ele sempre fez, ao sair do ninho para um passeio. ― E o ninho, Mainha diz, vazio de amor, caiu no chão. Ficou pr’ali, pr’acolá, tocado pelo vento. Daí, um dia, eu não vi ele mais”.





15 comentários:

  1. Bom dia, Márcio. Seu muito emotiva... a historinha acabou mexendo com minhas lembranças...Quando criança eu observava todo dia um casal de passarinhos conhecidos por "garrinchinhas" um dia quando faziam o ninho, um deles se embaraçou nuns fios e se enforcou na cerca de arame. Não pude fazer nada. Até hoje eu recordo a tristeza do outro ali pertinho...

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  2. Marcio, mais uma vez vieram-me lágrimas aos olhos! Que vontade de matar o gavião, embora ele também seja um ser vivo, que só estava cumprindo sua parte na luta pela sobrevivência. Seu modo de escrever é encantador, nos transporta para um mundo mágico, a volta à infância. Parabéns e obrigada. Continue escrevendo para nos deleitar!

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  3. Impossível não nos sentirmos crianças e acompanhar os passos de sua narrativa, com o coração pulsando forte. Você enriqueceu a história com seu jeito de contá-la.

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  4. Ah, que triste!... mas nesse caso, é a natureza agindo. Nada podemos fazer, é a força da vida. Lindo, delicioso de se ler!

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  5. Tão meiga que a gente até esquece que cresceu e se vê criança outra vez. Parabéns, Marcio, por mais um lindo e mágico trabalho literário.

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  6. OI MARCIO!
    UMA HISTÓRIA EMOCIONANTE, LINDA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  7. Dessa vez, a mãe bondosa parece-me ser a mãe nordestina, a quem, seus filhos, carinhosamente a chamam de mainha.
    Mais uma vez presente no texto do autor a natureza exuberante, o amor aos animais e a pureza da criança.
    Mainha é para todos a mãe querida.
    Você, Márcio, é o escritor que nos transmite bondade através de suas histórias infantis.
    Parabéns!


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  8. ahhhh Márcio, vc me fez chorar de novo menino...que lindo!!!
    abraço
    Izabel Christina

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  9. Como é gostoso ouvir, ler, e tudo que se refere as mamainhas. Sejam elas de espécie voadora, rasteira, marinha... Todas elas revelam carinho, amor e a vida que circunda a terra...
    Todas mainha tem a inspiração da Divindade

    Abraços

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  10. Um grande momento. De pureza e de tristeza, que fazem parte da vida. Lindo, Marcio. Como sempre. Beijo!


    Luciana Ferreira

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  11. Triste, bonito, e o ambiente de muita paz com maínha. Beleza emocionante, Marcio. Parabéns!

    Marina Roque

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  12. um texto bem feito, triste, e rico em literatura. Meus parabéns!


    Ana A Cabral

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  13. Extraordinário! Triste, bonito, deixa lembrança. Valeu, Buriti.
    Carlos Rodrigues

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  14. pequeno conto grande! Muita sensibilidade, Buriti!


    Gaudêncio

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