ERA a Belita. Eh, menina!
Era a tal, na escolinha da roça. Tia Marilene ficava ó...
Pasmada com suas notas. Era 10 em tudo! E olha que Tia Marilene era uma dureza.
A Tia
disse que os olhos desinquietos de Belita eram que nem bolinhas de gude negras;
e que quando ela escrevia no quadro, Belita já sabia o final da frase. E mais: que
Belita fazia os deveres de casa na escola; na hora do recreio. Fora da escola,
o negócio era brincar no quintal e no campo.
Aí, um dia, Belita saiu pelo campo com sua cadelinha
Luna. Foram nadar num poço verde pertinho da sua casa e da rocinha de Seu Joãozinho.
Bom, eles foram nadar vírgula, porque a Luna tinha horror àquela
água fria que nem picolé. Por isso ela caiu e foi logo aquentar ao sol nas pedras
do poço.
Dali, Luna entesourou as orelhas e vidrou os olhos
nalguma coisa na rocinha de Seu Joãozinho. Seria o quê... Uma cobra? Um gambá?
Um cãozinho do mato? Hã! Hã! Hã! Era uma melancia.
– Melancia? Oba! – Belita disse, já em cima da majestosa
fruta.
Mas aí ela sentiu a presença de alguém. Ai! Ai! Ai! Seria
Seu Joãozinho, o dono da rocinha, espiando? Que gelo! E quando a presença lhe pôs
a mão no ombro, então? Nó!
– Tenha calma, Belita. Sou amigo. Seu amigo.
Belita se virou e viu um homem magro, descalço, olhar
bondoso, amoroso. Daí que ele a ajudou a quebrar a melancia num tronco caído,
ela lhe perguntou pela segunda vez o “quem é você, hein?”.
– Já que insiste... Eu sou seu Anjo da Guarda.
– Meu Anjo da Guarda? Nenada! Se você é o meu Anjo da
Guarda, você sabe tudo de mim...
– Sim, eu sei tudo de você, pois estou sempre com você.
– Então, vamos ver: prova de que Tia Marilene deu hoje?
– Aritmética.
– Acertou. E o que ela deu na prova?
– Soma de frações.
– Acertou. E eu acertei a soma das frações?
– Acertou todas. Tirou 10.
– E o que mais?
– O que mais? Bom, vamos ver.... Ah! Sua cadelinha se
chama Luna... Seu pai a encontrou boiando no lago.
– Acertou. E o que você quer de mim?
– Quero uma coisa de você... Mas, agora, quero é viver
esse roubo de melancia... Sabe Belita, eu nunca roubei melancia...
– E depois, o que você quer de mim?
– Quero que você ensine aquele velhinho perto da sua
casa a ler e escrever.
– Ah, não! Ele não me paga...
– Você tinha quantos anos quando aprendeu a ler e
escrever?
– Quatro. E não estava na escola.
– Pois é. Eu a ensinei a ler e escrever e nunca lhe
cobrei nada.
Belita ficou encucada, pois o homem se afastou e,
simplesmente, se evaporou... Derreteu-se feito algodão-doce no céu da boca.
No
outro dia... Ah, que gelo! O velhinho dono da rocinha, Seu Joãozinho, chegou a sua
casa para conversar com seu pai. Ela ficou no corredor a escutar a conversa,
ó... Tremendo. No entanto, foi às nuvens ao ouvir Seu Joãozinho dizer que havia
reservado para eles a melancia mais bonita da roça; porém, um bicho lá a comeu
pela metade e nem deixou rastro.
Entendendo que seu Anjo da Guarda havia apagado o rastro
dela e de Luna, Belita foi à cozinha, onde estava sua mãe, e lhe disse que, a
partir daquele dia, iria ensinar o velhinho que morava depois do corguinho a
ler e escrever. Daí, a mãe, cheia de orgulho, abraçou-a e beijou-a, dizendo:
“Vá, filha, vá! E que os Anjos da Guarda te protejam!”.
Pensa, se Belita não olhou pra sua mãe e deu uma risadinha das mais...
Bom dia Marcio, como vai? Gosto muito da forma que vc escreve seus contos de forma fácil que nos prende a leitura, esta maravilhoso de muita beleza e maestria, meus parabéns.
ResponderExcluirAtt,
Maria Mendes
Amei! Criança, cachorro, anjo da guarda, velhinho e melancia... Tudibão! Escreveu para mim esta história linda, doce e emocionante.
ResponderExcluirBeijo grande,
Nena
O anjo da guarda era magrinho... mas sabia das coisas! E olha que até incentivava as artes da menina? Ah, eu queria um anjo da guarda assim!
ResponderExcluirA criança por si já é um anjo. Imagina quando recebe ajuda de "seu coleguinha', aí vira festa. E assim tivemos essa maravilha de narrativa. Vocabulário pertinente à fala do emissor.
ResponderExcluirParabéns,Marcio
A Belita vai adorar, a história está muito bonita.
ResponderExcluirVocê escreve cada vez mais de maneira meiga e bela. Adorei!
ResponderExcluirOnde tem criança tem vida, amor e muita ternura. E você com sua amabilidade transforma-se em anjo ao escrever cada história. Adorei!! Carinho da Cida.
ResponderExcluirMárcio, algodão doce é cada palavra de ternura que você faz desmanchar deliciosamente em nosso coração, é a sabedoria ímpar nessa boca de céu, em cada prosa poética a colorir de nuvens e sonhos a alma da gente! Meu carinho te abraça!
ResponderExcluirOlá amigo e poeta Márcio! Que prazer ler seus contos, crônicas e tudo que sai deste coração.
ResponderExcluirUm Blog irremediavelmente mágico!
Impossível não lembrar da minha primeira professora, D. Lígia e do seu quintal cheio de frutas (risos)! Principalmente, os sapotis. Hoje nem sei se existem, mas, se tenho um desejo, é de comer "vários" sapotis bem docinhos...! Que delícia!!!! Márcio, aí tem sapoti??? Se afirmativo, mande para mim!!! (risos)
Brincadeiras à parte, temos que reconhecer o seu maravilhoso e diferenciado talento; escrever para as crianças! Que lindo dom! Amigo, parabéns pela construção e poder de criação. Nem sempre o visito devido ao tempo, viu? Obrigada pelo carinho. Muito sucesso! Abraços e uma Páscoa repleta de paz! Márcia Ramos
Olá, Márcio, não tinha lido esse texto da menina e seu espírito protetor. Mas que beleza! Vamos pensar aqui em demonstrar essa pequena história numa aula de evangelização. Pode ser? Abraço, companheiro lindo.
ResponderExcluirAndresa Alves
Ah, Marcio, estou compartilhando o endereço da historinha, tá? Melhor assim, que depois eu fico sabendo dela nas aulas que lhe falei.
ResponderExcluirAndresa Alves
Espiritualidade e a beleza da vida da menina Belita, hein Marcio? Você e suas crianças nos presenteando com ótimas leituras. Bravo! Beeeiiiijo!
ResponderExcluirQue fofura! Um texto ótimo pra ler antes de dormir. Beleza! Beijo,
ResponderExcluirCarol Schneider
Ah, que lindo! Menina Belita, queria ver o meu anjo da guarda também, viu? Muito carinho nessa história. Beeeeeeijo, Marcio!
ResponderExcluirSolange Prado
Uma aventura bonita, simples, com direito a Anjo da Guarda. Excelente.
ResponderExcluirLudmila Franco
Uma aventurazinha espetacular. Li para a pequena. Beeeeijo, Márcio.
ResponderExcluirMarina Roque